Acordo ouvindo o Ministro das Obras Públicas que, não resistindo à pergunta da jornalista, confirma que o novo aeroporto vai criar 56 mil novos postos de trabalho. Vinte e oito mil dos quais directos. Eu não quero parecer um empedernido franco-atirador mas estes tipos estão mesmo a pedi-las.
Tomando como adquirido que o Aeroporto da Portela terá de fechar para que se assegure a viabilidade financeira do futuro Aeroporto da Ota pergunto ao senhor ministor se nessa contabilidade dos 56 mil novos postos de trabalho já estão abatidos os postos de trabalho directos e indirectos que cessarão por via do encerramento da Portela.
Trazer para a conversa os 56 mil é claramente discutir pelo lado errado, é conversa de idiota falando a um povo de maioria de ignorantes que já não existe. O argumento seria sério se se tratasse de um acréscimo de postos de trabalho ao sector, e até isso seria estranho: um novo e moderno Aeroporto (maior é certo) acrescentaria tantos milhares de trabalhadores directos?
Uma última achega para quem fez a pergunta: é sério o trabalho de um jornalista que não é capaz de despistar de imediato esta dúvida absolutamente linear (novos postos de trabalho são mais postos de trabalho?) e a que se chega automaticamente? Tenho motivos para ter dúvida razoável porque não acredito que o país da maioria de ignorantes ainda subsista entre a comunicação social.
Adenda: nada me move contra a jornalista em particular, o desabafo final resulta apenas da constatação de que não temos bons entrevistadores para matérias políticas neste país. Sobram-me os dedos das mãos para contar aqueles que me dão garantias de serem capazes de defender a baliza dos intermediários do público sem frangarem a torto e direito. Acresce que alguns daqueles que julgo poderem fazer bem o ofício muito raramente são chamados para essas funções.
Adenda II: Segundo Jornal de Negócios, a Portela emprega directamente 12 mil trabalhadores.