O que resulta mais evidente destes últimos dias de ‘Cavaco assumido’ é a constatação de que em 10 anos de "ausência" não mudou uma vírgula:
"Cavaco pode ter sido o ultimo a apresentar-se como candidato. Mas, sejamos sérios, já o é claramente há pelos menos dois ou três anos. Demorou foi a assumir-se, e pelas piores razões. Para manter a aura de distanciamento e de desapego. Para não ter de lidar com a pressão da opinião pública, preferindo antes jogar como franco-atirador, num toca e foge em que controlou meticulosamente todos os tempos. Para não ter de dizer o que pensava a não ser quando lhe apetecesse, sem contraditório. Para, enfim, poder dizer que não é um político e simular um regresso sebastiânico. Um "regresso à política" cuidadosamente planeado para um "não político"."
Ser contra isto é definirmo-nos pela negativa? Seja! É já uma boa causa. Oferecer ao país Soares em vez deste Cavaco Silva.
Claro que preferiria outras opções, claro que preferiria outras provas de vitalidade vindas de outras gerações (à esquerda e à direita, já agora!). Já o aqui escrevi, desiludido. Mas este problema está noutro patamar. Contra esse fatalismo nada posso fazer de imediato, nestas eleições. Limitando avarias há que encarar as opções que temos. E fazendo-o tenho que estar grato que alguém como Soares e Alegre se tenham apresentado à luta.
Confesso que não sei exactamente em que é que Alegre poderá revelar-se mais interessante do que Soares no momento de captar o voto. Seguramente nenhum deles ‘secou’ o espaço à sua volta – ofereceram-se generosamente para o ocuparem – e não me choca absolutamente nada que convivam. Como disse, está apenas por provar o que Alegre tem para oferecer além do mais que tirocínio presente no currículo presidencial de Soares. Menor cansaço de imagem? Menos inimigos? Talvez…
Espero sinceramente que Cavaco, se ganhar, não o consiga à primeira volta. Se os portugueses decidirem equilibrar a balaça do poder, convém que uma figura como Cavaco perceba bem que "tem de pedalar" para conquistar o cargo e mantê-lo. Entregas arrebatadas do país não são seguramente aquilo de que precisamos. Será que não aprendemos nada com o passado? Há por aí muita gente a precisar de tomar uns comprimidos para a memória.
De qualquer forma a chapelada do dia vai, naturalmente, para o parágrafo em itálico da Mariana Vieira da Silva. Um texto muito cá de casa.