O JCD volta à carga com o post A Cruz onde, entre outros, tenta estabelecer um paralelo entre Sócrates e Portas:
«Caro Rui, andam por aí outros líderes de partidos sobre quem circulam exactamente os mesmos boatos que nunca ‘preencheram a declaração’. Ontem não foi bem assim. Um líder de um partido preencheu o impresso. Disse, indignado, que não é judeu. E por muito que se filtre o sentido da indignação, o que sobrou é que ser judeu é mau. É?
Por falar em vida privada, roubo este texto ao Blogouve-se. Foi escrito pelo antigo director do Expresso, Joaquim Vieira.
“[Paulo] Portas tem realmente um problema com a sua imagem perante o eleitorado conservador que é o seu. Um político, pela natureza da função, está obrigado a um maior grau de exposição perante a opinião pública do que o cidadão comum (…). Portas defende as tradições, os valores familiares e a moral católica, e naturalmente os eleitores interrogam-se: quem é este homem? É católico praticante? Porque é que não casou? Que vida afectiva tem? Porque é que não se abre sobre isso? (…) São perguntas que não desaparecem. Portas sabe, e o eleitorado também”.
Claro que isto não faz mal nenhum. É sobre Portas, e as virgens não se ofendam sobre tal personagem. Sobre assuntos de índole pessoal, importante e decisivo é impedir que católicos praticantes amigos do papa sejam comissários europeus.»
Caro JCD,
Quanto ao facto de Sócrates ter informado da sua orientação sexual lamento que não tenha resistido a responder à pergunta (confesso que não ouvi essa “confissão”), como se pode deduzir do que escrevi. Num país livre respondeu, como escreveste. Contudo, ao fazê-lo, pergunto-me se se sentiu verdadeiramente livre para não responder. Efeito curioso o do boato, não é?
Mas queres comparar essa pena com o que penso de quem fez desse boato arma de arremesso? A chatice que julgo derrubar a tua argumentação é que… Sócrates não é Portas. Sócrates não faz de uma moral que determina a sua conduta pessoal ou a sua orientação sexual matéria de discussão política, Portas faz.
Ora façam lá o favor de reler o que escrevi e atentar na frase ‘Nem sequer o mais discutível argumento da coerência política pode ser utilizado pois em nenhum momento Sócrates fez dos valores homofóbicos a sua cartilha.’
Defender a moral católica e ser homossexual é aos olhos da Igreja e de muitos crentes uma incompatibilidade em termos. Onde é que Sócrates exaltou esses valores? Lamento JCD, mas o político José Sócrates não é o político Paulo Portas.
As posições políticas públicas de Portas deixam-no mais vulnerável a estes ataques. Ou melhor, legitimam a pergunta. E isso, para mim, faz toda a diferença.
É-me muito difícil aceitar que um político possa arrogar-se ao direito de viver pelo provérbio do “Faz o que eu digo, não faças o que eu faço.” Apenas naquilo que ele escolhe ser matéria da sua posição política deverá perder o direito à reserva (o direito à mentira para preservar a intimidade se assim o desejar). Uma PEQUENA diferença, certo?