Passavam poucos minutos do apito final e o cantinho mais ensurdecedor da capital devia ser aquele pedaço da Almirante Reis entre a Praça do Chile e a Pascoal de Melo. Em mais nenhum sítio da cidade por onde passámos nas horas seguintes, ficámos com os ouvidos a zunir.
Predominavam os bólides – em Fiat Uno e Renault Clio – sobrelotados com famílias inteiras (crianças, pais e avós) ou com jovens pouco mais que adolescentes empoleirados nas janelas e espreitando pelos tectos de abrir.
Não fazia ideia de existirem tantos carros com tejadilhos amovíveis nesta cidade. Uma moda a considerar nos próximos anos para os vendedores de automóveis.
Retive duas “fotografias” daquele canto. A de uma venerável avó espreitando a rua do lugar da janela do pequeno utilitário. O sorriso que nos oferecia era sereno, cheio de rugas, nuns olhos piscando com o reflexo dos neons. Aposto que estava feliz.
A outra guardo-a para uma das muitas buzinas originais que encontrámos ao longo da noite. Chamemos-lhe “buzina de detonação” esta que um casal de idosos, no seu igualmente idoso veículo, ia pondo a funcionar com sucessivas bombadas naquele enchedor de pneus com apito acupulado.
(continua)