11 – Haverá algum código de horror por decifrar neste número?
Estranho a maioria daqueles por quem passo. Espero descobrir neles um pesar, uma tristeza profunda mas entre aqueles que tenho mais à mão pouco mais adivinho do que a indiferença. Talvez seja meu o problema. Hoje apeteceu-me ir a correr para Madrid, chorar à vontade, em liberdade, confortar o inconsolável. Não, não foi só hoje. Carrego comigo uma boa dose do peso do mundo que vou alijando sempre com o exercício da vida. Será assim com todos e se não for, hoje, isso também não me interessa.
Acho que nunca aqui fiz alarde de como sofro, é algo demasiado íntimo e impronunciável. Por uma vez (haverá outras), aceito o risco do ridículo com estas pobres palavras. Mas é mais do que um lamento que aqui me traz, é também uma profunda crença na humanidade, naqueles com que partilho estes instantes. Não preciso de fés, de deuses ou demónios para ter este credo. Não é também o horror accionado pelos outros que me demove, espero que nem num trágico dia em que ele se aproxime ainda mais de mim, mude de ideias. Lembrem-me estas palavras se fraquejar…
Há certezas que o medo não vence, poucas, talvez, mas muito concretas. Há um saber que não precisa de espelhos ou de lupas para se assegurar de si. Não sou só eu que sou capaz de amar, não sou só eu que sou capaz de sofrer, não sou só eu que sou capaz de morrer, não sou eu aquele que é incapaz de matar.
Há perigos que o medo alimenta. E nada de mais perigoso há do que o dia em que passamos a sofrer de forma perene e inesgotável. Lembrem-me estas palavras se fraquejar…
Guerra, penas, morte. Talvez… Façamos delas amigas desinteressadas, disponíveis para ajudar em legítima defesa, mas não as abracemos enquanto amantes possessivas, voluptuosas, enebriantes. Não nos esqueçamos quão caprichoso e cego será esse abraço.