Como já disse algures no final do último texto, a Isabel Goulão chamou-me a atenção para o dossier de hoje do Público sobre os transportes. São vários artigos que contribuem de forma clara para melhorarmos o entendimento da situação.

Para quem tiver menos tempo para a extensa leitura recomendo particularmente o artigo “Como Tirar Os Carros do Centro das Cidades?” de ANA HENRIQUES. Remeto para lá boa parte da resposta que poderia ainda dar ao Nuno P.
Curiosa a referência ao sistema implementado em São Paulo e do qual a Cathy já aqui tinha dado testemunho com um comentário.

Deixo alguns excertos do artigo que não invalidam de forma alguma a leitura integral:

«(…) E se o metropolitano passasse a ser mais caro à hora de ponta? O especialista em política de transportes, José Manuel Viegas, explica que esta foi a maneira encontrada em Washington e em Santiago do Chile, por exemplo, para reduzir o excesso de passageiros dos transportes públicos em determinados horários. Aqueles que andavam de metro às horas de ponta sem necessidade disso deixaram de fazê-lo, libertando espaço para os que não têm alternativa.

Acérrimo defensor do controle da política de transportes através dos preços – “o sistema é sempre o do pau e da cenoura” -, José Manuel Viegas pensa que Lisboa ainda não chegou a um nível de saturação de passageiros dos transportes públicos às horas de ponta que justifique semelhante medida. Nem essa nem a das portagens anunciadas para o centro da cidade pelo presidente da câmara.

“Não é necessário, porque ainda podemos controlar as coisas através da política de estacionamento e dos transportes colectivos”, defende este professor universitário, responsável pela revisão do Plano Director Municipal na área dos transportes. “Se determinada zona é muito procurada pode custar três euros à hora. Se não é, pode só custar 20 cêntimos”, exemplifica.

O tempo de duração máxima de estacionamento é outro factor que pode ser manipulado. Por outro lado, é sabido que quanto mais bem servida de transportes públicos e de parques de estacionamento em redor for uma zona mais facilmente os automobilistas aceitam transformar-se em peões.

Mas uma eventual subida dos preços dos transportes públicos à hora de ponta nos casos em que isso se justifica não será, afinal, um incentivo ao uso do automóvel? “Aperta-se também no estacionamento”, responde José Manuel Viegas. (…)»

«(…)O sistema das matrículas alternadas – num dia circulam os carros com números ímpares, noutro os com números pares, por exemplo – revelou-se, segundo José Manuel Viegas, um fracasso. Outro professor do Instituto Superior Técnico, Nunes da Silva, conta que nas cidades do Brasil onde ele foi adoptado todos os que podiam adquiriram rapidamente um segundo automóvel. “Pode ser um sistema socialmente muito injusto”, acrescenta. (…)»

«(…)Lisboa incorreu num “erro gravíssimo”, ao “transformar o estacionamento num grande negócio”, em vez de o pôr ao serviço de uma política de transportes, acusa Nunes da Silva: “Os parques foram feitos sem retirar estacionamento da via pública”. »

In Público, 17 de Fevereiro de 2004

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