Pensar, prever, esperar o inesperado. Tudo isto parece distante da poesia. Talvez contrário ao fado…

Não é preciso muito, não é preciso vivermos na obsessão planificadora da nossa vida…
Poderemos viver a vida como se todos os dias fossem o último?
Carpe diem não é bem isso.
O meu dia é hoje também uma perspectiva de amanhã. É alegre pelo minuto que vivo e pelo que ainda quero viver. É triste quando penso que um deles será o último; quando vejo aqueles que amo deixarem de ter tempo.
Pelo que sei hoje é bom que continue a ser assim, que seja sempre assim até ao fim. É bom que não me fuja essa tristeza!

Fazer uma conta, perspectivar uma despesa, projectar uma obra, seduzir alguém, tentar alcançar um sonho, acomodar um filho, tentar ser um pouco mais do que um homem de mãos nuas, ao frio…

Há momentos em que não tenho dúvidas sobre o que faço aqui. São apenas breves instantes que me valem pelas longas horas de angústia e incerteza. Momentos de paz onde nada é sinistro.

Sinistro… Sinistro pode ser não ter uma ambulância num estádio de futebol durante um jogo. Comer o lombo mas não conseguir chupar o crânio. Ter mão para abrir com violência uma lata de comida para o bichano e não ter “estômago” para ajudar um velho mais ou menos sujo que acabou de cair na calçada branca e aí jaz sangrando.
Sinistro é ver-me a fazer poses, sentir-me esquivo, fugindo de um abismo quando mergulho nele, a pique, julgando que voo.
Sinistro é não querer voar ou querer fazê-lo sem pensar em combustível.

O meu dia é hoje também uma perspectiva de amanhã. É alegre pelo minuto que vivo e pelo que ainda quero viver.
Pensar, prever, esperar o inesperado. Tudo isto parece distante da poesia. Talvez contrário ao fado…

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