Para se ter fé não é preciso ser-se crente. Ter fé é acreditar em algo sem provas concretas que alicercem essa crença. Julgava, até ler o seu texto, que este entendimento fosse um dado adquirido no léxico português.
Quem diz estas, certamente sábias, palavras é a nossa colega bloguer Joana do Semiramis.
E são paradigmáticas as ditas, paradigma da nossa momentânea (lá está o meu optimismo) incapacidade de entendimento. Leio o que lhe escrevi em matéria de fé, leio estas linhas aqui reproduzidas que a Joana me dedicou e fico em posição de “Pensador” com o queixo nas mãos.
Lá terei que deitar fora o meu modesto Houaiss, pelo menos na sua definição filosófica de fé, mas enfim, quem sou eu, um pobre Adufe, para rejeitar os dados adquiridos da mais excelsa deusa dos Assírios (espero não ter a mitologia trocada).
Joana, perante tamanha incapacidade da minha parte em compreender e interpretar o que escreveu, deixemos então aos leitores o julgamento que bem entenderem fazer da nossa breve polémica. Havemos de ter outras oportunidades para debater outros temas. Talvez micro-temas, para ver se é mais fácil não nos enredarmos em incompreensões sucessivas.
Lamento apenas ter de lhe comunicar que partilho o seu sentimento de incompreensão face àquilo que percebeu de algumas coisas que eu escrevi. Agradeço desde já os sublinhados que me fez e que me permitiram seguramente clarificar e aprimorar as minhas técnicas discursivas facilitando debates futuros com próximos polemistas com que me venha a debater. Mas denoto ainda, para finalizar, alguma mágoa por a Joana insistir em querer colar ao esoterismo, ou deverei dizer talvez, ao âmbito do onírico, sinceras propostas de operacionalização que julgava estar a fazer. É que nem uma se escapou, nem uma micro reforma para a amostra, nem mesmo as já implementadas que citei e que julgava servirem de modelo a reproduzir (escuso-me de as repetir, estão no texto). Pelos vistos sofro do mal da governação pois, pegando na sua metáfora, ao implementar as minhas “medidas”, note as aspas, mais não faria do que repetir o mito de Nero na sua Roma, agora não com a lira, mas seguramente com um Adufe.
P.S.: A história da floresta de que fala é curiosa… Imaginando-a, pelo que li, acérrima defensora da supremacia e larga auto-suficiência do mercado (por favor diga-me que desta vez não a interpretei mal pelas deduções que fiz), fico-me com esta: onde estava a mão invisível do mercado para, com a sua racionalidade automática, antecipar e precaver a potencial extinção pelo fogo, (ou, no mínimo, grave atrofiamento) do próprio mercado dos produtos florestais? As premissas da concorrência e do mercado livre estavam largamente asseguradas, o estado, omisso, permitia o maior dos liberalismo possível e imaginário, e contudo… Tudo ardeu! Ninguém, nenhum agente livre conseguiu unir-se a outrem por forma a que todos juntos, ou por entreposto prestador de serviços subcontratado, desmatassem a floresta e evitassem o mal… Esperava que ao menos agora, os proprietários florestais imitassem os armadores renascentistas recorrendo ao mutualismo, ao seguro, rejeitassem interferências externas ao sector… Não clamassem pelo socorro do Estado essa figura tão presente no nosso passado debate…