As palavras que seguem vinculam-me a título pessoal e nunca a instituição onde trabalho
A análise estatística de conjuntura é muito traiçoeira. O seu principal objectivo, mais do que analisar o nível em que se encontra a economia nas suas diversas facetas, é averiguar o seu andamento face a um período de referência, seja ele o mesmo mês (trimestre) do ano anterior ou o mês (trimestre) imediatamente anterior. Pressupõe-se, portanto, que o leitor conheça o enquadramento económico. Naturalmente, a Síntese Económica do Trimestral do INE, quando se refere ao Mercado de Trabalho não nos diz que a situação é boa em absoluto, diz-nos apenas que ela está a evoluir negativamente mas a um ritmo agora menos intenso; nesse sentido, não se degradou. É possível que em breve essa menor intensidade da degradação da situação dê lugar a uma recuperação real do nível (mais emprego, menos desemprego, por exemplo) mas isso só o futuro dirá.
Opinião mais politizada:
No que toca ao mercado de trabalho o nosso Primeiro Ministro não tem ainda muito de que se orgulhar, infelizmente. O mesmo lhe acontecerá se olhar para a evolução global do sector dos Serviços, ainda claramente em queda livre, um sector que representa cerca de um quarto do valor acrescentado bruto (nestes “Serviços” não se incluem o Comércio e o Sector Financeiro) e que por razões técnicas inteiramente válidas (posso explicar se quiserem) não se encontra ainda incorporado no Indicador de Clima. Um indicador que, diga-se, tem progredido de forma particularmente positiva nos últimos meses.
Dizia eu que a análise estatística de conjuntura é muito traiçoeira. Nunca estaremos livres – conheço estas dores – da possibilidade de haver interpretações abusivas do que se escreve, mas também por isso é particularmente melindrosos fazer análise económica. Devemos evitar a todo o custo possíveis ambiguidades interpretativas fundadas no que aparece escrito. Espero que com este enquadramento que aqui fiz seja mais fácil perceber o que se escreveu e o que significam as afirmações presentes ali um pouco mais abaixo (I e II)