Em memória do Pedro, do Luis, de todos os nomes, leio o texto de quem ficou por mais uns instantes…
João
Não se ouviu qualquer sirene, alerta algum, ninguém reportou qualquer grito, tudo aconteceu no silêncio, talvez tudo tenha sido murmurado, talvez nem tenha havido lágrimas, talvez não tenha chorado, é possível que não tenha vacilado, é possível que, em momento algum, se tenha arrependido, é provável que o desespero, que a mais silenciosa dor, que o mais invisível tormento tivesse ficado no passado, talvez não houvesse nada para celebrar, razão nenhuma para continuar, talvez há demasiado tempo, talvez se soubesse opaco para os outros, talvez não suportasse essa consciência, talvez a indiferença, a frieza, o desamor, a solidão, ou então algo terrível (…)
In A Espuma dos Dias