A propósito da indignação do Aviz que se lê aqui:
Conheço uma professora de português, com cerca de 30 anos de carreira que, perante os manuais à escolha (e particularmente perante o que a sua escola escolheu), resolveu assumir a responsabilidade de escrever o seu próprio manual ou sebenta.
Entre textos próprios, peças completas dos autores do currículo – que não os excertos tristemente truncados que surgem em alguns manuais, por vezes nas partes mais nobres e instrutivas para o exemplo que visam destacar -, recortes, opiniões e outros contributos, escreveu e reescreve quase todos os anos um manual de português.
Tudo é artesanal, tudo sai do corpo e das horas que poderiam ser destinadas à família, à leitura, ao lazer. Os seus leitores são exclusivamente os seus alunos e os bons resultados que vai conseguindo têm-lhe dado força para conquistar o direito a recusar os manuais adoptados. Tudo isto se passa numa escola pública da grande metrópole.
Hoje, (só agora!), já depois do início do ano, a equipa de português percebeu que o manual que escolheu adoptar e recomendar aos alunos é particularmente mau. Que fazer? Pedir desculpas aos pais e pedir-lhes para comprarem outro menos mau? Deixar rolar porque ninguém está com atenção para o que se passa na escola?
Temo que ninguém se lembre do exemplo da colega que ainda luta por valorizar o que faz e por respeitar os alunos que lhe cumpre educar.