Uma rapariga apressada, sisuda, que subia a Avenida da Liberdade arriscou – oh acto de bravura nesta era desgraçada!- perguntar, a um rapaz que descia, que horas eram. Este, em vez de virar a cara para o lado e apressar o passo antes que fosse assaltado, ou então, antes que fosse convidado a uma sessão de apresentação de um excelente produto, arriscou também – oh feliz o audaz que propiciou esta coinciência!- e respondeu.
Engasgou-se tantas vezes antes de dar a hora certa que acabou a pedir desculpas à rapariga que sorria agora divertida, tal fora a palhaçada.
A boa disposição em que a moça ficara funcionou positivamente no rapaz e este justificou-se dizendo que o relógio era novo e sendo analógico não estava habituado a ele. Ela replicou que seguramente valera a pena reaprender a ver as horas dado que o relógio era muito bonito. Acrescentou: âà a primeira vez que pergunto as horas a alguém, se eu soubesse que era tão divertido já o tinha feito mais vezes.â? Cavalheiresco, o rapaz respondeu: âDisponha, estou sempre à s ordens para receber um sorriso… como o seu.â? Num tom cúmplice, continuou: âPara a próxima, já que esgotámos este espediente, pode perguntar-me uma direcção. Garanto-lhe que vai rir a valer! Especialmente se secretamente souber onde é. Eu nem lhe digo quantos desgraçados é que já desencaminhei com a maior das boas intenções!â? Riram, despediram-se. Pouco depois, olharam os dois para trás aos mesmo tempo, sorriram de novo. Ela apanhou o metro, ele entrou num Banco.