Ontem na SIC Notícias fui surpreendido pelas declarações de Martim Avillez Figueiredo (director do Diário Económico) relativas à falta de credibilidade das estatísticas do INE. Portugal não tem estatísticas credíveis afirmou, focando particularmente as económicas. Afirmou ainda que o Banco de Portugal não usa as estatísticas do comércio externo provenientes do INE! E chegou a classificar o Eurostat como entidade reguladora das estatísticas europeias – quem dera ao Eurostat ter todo esse poder… Finalmente, no mar de tanta falta de credibilidade temos as estatísticas salvadoras do Eurostat relativas à confiança dos empresários que, de facto, dão a entender que as coisas poderão melhorar. Terminou sublinhando que nos EUA até há estatísticas sobre a confiança dos consumidores !

Meus amigos, o INE terá muitos problemas crónicos, graves e que exigem uma resposta à altura das novas exigências informativas, mas quando alguém ataca a credibilidade do INE revelando no mesmo discurso tanta ignorância sobre o que o próprio INE faz, esse alguém seguramente não poderá contribuir para a solução do problema. Digo isto porque simplesmente oferece como alternativa o rolo compressor que leva tudo a eito. Precisamos é de joeirar a coisa para fazer boa farinha e não de arrastar tudo para a lama.

Só para que conste (mais uma vez – alguns se recordarão que este tema já foi exaustivamente abordado no velho Adufe), o Eurostat não tem por missão produzir directamente nenhuma estatística, não realiza inquéritos regulares, procede quando muito a alguns tratamentos como sejam correcção de sazonalidade e preocupa-se essencialmente com a compilação das várias estatísticas nacionais para tentar chegar a um todo coerente a nível europeu, no meio de tanta diversidade metodológica.

Os indicadores de confiança dos empresários que Martim Avilez Figueiredo considera credíveis e como um farol sobre o que realmente aí vem na economia nacional, são divulgados não pelo Eurostat mas pela Direcção Geral de Economia e Finanças da Comissão Europeia e, pasme-se, são produzidos quase na íntegra pelo Instituto Nacional de Estatística (Indústria Transformadora, Serviços e Comércio); a excepção é o da Construção que é realizado pela AECOPS. Ah! E o INE (também com divulgação pela DGECFIN) realiza um inquérito à confiança dos consumidores desde, pelo menos, 1986. Uma última exclamação: a comissão europeia co-financia os custos de realização dos inquéritos após concurso público!

Confesso que não consigo entender aquela intervenção a que assisti ontem na SIC Notícias. O que é certo é que dava muito jeito ao INE ter críticos que prezassem a sua própria credibilidade, que se informassem (por exemplo com o que se passa lá fora em termos de revisões às séries estatísticas) e que de caminho se dedicassem a exigir melhores estatísticas sobre o país. Estão abertas vagas… 

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