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André e a Secular Rede da Boa Vontade

13.08.2003 por Rui Cerdeira Branco Categoria As Crónicas e os Contos

Mais uma do baú
Memórias de um Proto-Blogue V

Crónicas Rapidinhas sobre Tansos:
André e a Secular Rede da Boa Vontade

Chamemos-lhe André. André é um rapaz a rondar os 20 anos, tem uma cara juvenil e uma capacidade de representação razoável. Este rapaz apresenta aos passageiros da linha de Sintra, na estação do Rossio, uma variante interessante do pedinte de comboio. A sua imagem é completamente oposta à do pedinte clássico que ainda vai resistindo: o indivíduo chungoso e fedorento, de baixa estatura e envergadura diminuida pela dependência e pela imunodeficiência adquirida, que vai tentando vender pensos rápidos a 100 paus a dúzia.
O André não é mal parecido, é asseado, anda sempre bem vestido – de pólo ou T-shirt com boas calças de ganga e tenis a condizer ou então de fato cinzento – e faz-se acompanhar de uma pequena pasta portfólio que completa a figura de indefeso estudante do secundário ou universitário.
Composto o boneco, o André lança a linha com um dizer relativamente comum mas ainda não saturado nestas andanças das carroagens de comboio: «A senhora [alvos preferências entre potenciais mães ou pais de adolescentes] não me podia dar qualquer coisa para acabar de pagar o bilhete? É que perdi o passe e estou desprevenido… Só tenho 100 escudos….»

Nos primeiros tempos, o sucesso do esquema é razoável, pois o boneco está bem feitinho e é bem diferente da tal imagem preconcebida a que as pessoas reagem com uma automática recusa.
Quando o André me interpelou pela primeira vez, confesso que fiquei espantado com a sofisticação e demorei mais um segundo do que devia para responder negativamente ao pedido.
Poucos dias depois, volto a encontrar o André no Rossio com outra roupa e outra pasta, mas com o mesmo boneco e esquema. Quase lhe bati palmas: a representação melhorava de dia para dia! No entanto, quando me interpelou novamente, brindei-o com o silêncio e um olhar imperturbável bem fixo na cara dele o que me valeu, desde então, ser poupado a futuras exibições personalizadas.
Hoje, passados alguns meses após o primeiro encontro, tornei a ver o André no comboio (vem lá ao fundo da carroagem, neste momento) ainda com a mesma ladainha e esquema. A avaliar pelas contribuições, o negócio já teve melhores dias, quase só sobram as senhoras de bom coração que não têm ido corrigir as dioptrias ultimamente, mesmo assim, ainda vai rendendo qualquer coisa, não é André? O tipo ainda me conhece! Passou por mim agora mesmo, poupando latim.
É preciso ter lata, mas mais importante do que isso é preciso ter dinheiro. André tem conseguido doses bem aviadas de tudo isto e tem ainda o filão da linha de Cascais para explorar (qualquer dia terá também a do Pinhal Novo). Desejo-lhe boa memória para me continuar a reconhecer e desejo-me a fortuna de nunca precisar de recorrer à generosidade alheia em região já batida e chupada pelo André; já agora, desejo o mesmo para vocês.

*

Hoje, ao início da tarde – alguns dias depois do anterior «hoje» que vem ali mais acima -, voltei a ver o André na estação do Rossio. Estava no grande átrio onde se vendem jornais, bilhetes e pipocas.
A indumentária era a do esquema e tudo indicava que ia começar mais um dia de trabalho, mas havia uma novidade, uma novidade para mim, não para a verdadeira história quotidiana da linha: com o André estavam mais dois Andrés. Um talvez fosse o António: “vestiaâ€? a sua pastinha de apontamentos que trazia na mão esquerda juntamente com o caderno escolar que encostava à T-Shirt da moda. O outro, mais velho, parecia coordenar as tarefas do dia distribuindo direcções e instruções para os Andrés. Este outro parecia menos universitário, mas também não tive tempo para o topar em condições. Num instante se separaram em direcção às várias linhas da gare do Rossio. A rede da boa vontade voltava a atacar os generosos e indefesos cidadãos suburbanos.
Hoje é terça feira, dia de feira da ladra, há pombos, fumo, enganos, rugas e olheiras. Parece Inverno este Verão. Acho que não devia, mas tenho nojo de alguma coisa.

Mem Martins, 24 de Julho de 1997

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One Response to “ André e a Secular Rede da Boa Vontade ”

  1. 1
    #1 Luciana Lemos Says:
    November 1st, 2003 at 11:39 pm

    Cometas e Estrelas

    Há pessoas estrelas;
    Há pessoas cometas.
    Os cometas passam. Apenas são lembrados pelas datas que passam e retornam.
    As estrelas permanecem. Os cometas desaparecem. Há muita gente cometa.
    Passam pela vida da gente apenas por instantes, gente que não prende ninguém e a ninguém se prende. Gente sem amigos. Gente que passa pela vida sem iluminar, sem aquecer, sem marcar presença. Há muita gente cometa. Assim são muitos e muitos artistas. Brilham apenas por instantes nos palcos da vida.
    E com a mesma rapidez com que aparecem, também desaparecem.
    Assim são muitos reis e rainhas de todos os tipos. Reis de nações, rainhas de clubes ou concurso de beleza. Assim rapazes e moças que se enamoram e se deixam com a maior facilidade. Assim são pessoas que vivem numa mesma família e que passam pelo outro sem serem presença. Importante é ser estrela.
    Estar presente. Marcar presença. Estar junto. Ser luz. Ser calor. Ser vida.
    Amigo é estrela. Podem passar os anos, podem surgir distâncias, mas a marca fica no coração. Coração que não quer enamorar-se de cometas que apenas atraem olhares passageiros. E muitos são cometas por um momento. Passam, a gente bate palma e desaparecem. Ser cometa é não ser amigo. É ser companheiro por instantes. É explorar sentimentos. É ser aproveitador das pessoas e das situações.
    É fazer acreditar e desacreditar ao mesmo tempo. A solidão de muitas pessoas é conseqüência de que não podem contar com ninguém. A solidão é resultado de uma vida cometa. Ninguém fica. Todos passam. E a gente também passa pelos outros.
    Há necessidade de criar um mundo de estrelas. Todos os dias poder vê-las e senti-las.
    Todos os dias poder contar com elas. Todos os dias ver sua luz e calor. Assim são os amigos. Estrelas na vida da gente. Pode-se contar com eles. Eles são uma presença.
    São aragem nos momentos de tensão. São luz nos momentos escuros. São pão nos momentos de fraqueza. São segurança nos momentos de desânimo.
    Olhando os cometas é bom não sentir-se como eles. Nem desejar prender-se em sua cauda. Olhando os cometas é bom sentir-se estrela. Marcar presença. Ter vivido e construído uma história pessoal. Ter sido luz para muitos amigos. Ter sido calor para muitos amigos. Ter sido calor para muitos corações. Ser estrela neste mundo passageiro, neste mundo cheio de pessoas cometas, é um desafio, mas acima de tudo uma recompensa. É nascer e ter vivido e não apenas existido.

    Reinilson Câmara

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