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Política

Zona Euro: Nas costas dos outros

Há foguetes a mais sobre o acordo. Há demasiada gente que perdeu completamente o sentido de perspetiva e/ou está em negação. Não haverá nunca paz, harmonia, convergência e prosperidade coletiva numa união monetária, sem uma união política, sem uma união bancária completa, sem uma união orçamental. Sobre todas não há neste momento qualquer esperança de concretização, qualquer discussão pública e notória que permita acelerar o processo de integração com um ritmo minimamente aceitável. Temos um exercício de generalidades dos 5 presidentes e um plano completamente insustentável de Schaeuble.

O processo político absurdo por que se passou (ao longo de 5 anos) convertido num festival de recriminações geralmente ignorantes do ponto de vista económico, histórico e político, patrocinado pelo imediatismo da política interna de cada um dos 19 estados é insustentável.

Discute-se casuisticamente cada caso de crise sem se reconhecer que há causas comuns, ou, fazendo-o, recusando qualquer atuação eficaz sobre elas. O máximo que se fez digno de nota foi conseguir uma união bancária coxa, a concretizar lá mais para diante, sempre num desenho incompleto e a garantia de que a concretização dos restantes pilares está completamente posta de lado.  Tudo isto devia ensinar-nos qualquer coisa quanto ao custo de varrer os problemas para debaixo do tapete tempo de mais, para o absurdo de termos um eurogrupo (que não possuindo sequer existência legal) é o vértice de poder, sendo controlado por promotores do darwinismo ao nível dos Estados. Um local onde todas as regras de tratados servem para impedir uma crítica ao status quo e onde todas as regras e tratados são flexibilizáveis caso se ceda à vontade poderosa.

Até prova em contrário, é fundamental que quem está na linha da frente faça o trabalho de casa que tem à mão. No caso de Portugal isso passa por antecipar a ameaça que é para nós a manutenção deste estado de coisas, tanto numa perspetiva nacional estrita, quanto numa perspetiva de construção do projeto europeu. Há neste momento 3 ou 4 países em condições de estarem na Zona Euro com o desenho atual e mais um punhado deles que não as tendo está largamente convencido de que tem mais benefícios que compensam os custos para a sua economia (Países Bálticos, Eslovénia, Eslováquia).

Portugal é o país que se segue à Grécia. Não é a nossa vontade, é a perceção construída e alimentada por uma União Monetária que se tornou a chacota da comunidade internacional, completamente descredibilizada, encarnado a negação do que tem de ser garantido para sustentar uma moeda comum.  Temos condições para condicionar em tempo útil o desenho da Zona Euro, antes que o próximo soluço ou impulso “purificador” nos tolha? Hoje, não. Daqui a um punhado de meses? Veremos, mas também creio que não. Façamos ao menos a pergunta e aprendamos com o procedimento a que os gregos foram submetidos.

Aprendamos com o exemplo grego, identifiquemos os sinais de alarme, não esqueçamos o que se fez nas costas dos outros.

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Política

Schaeuble tem um plano. E nós, o que temos?

1) Sim, chegou a prova definitiva para a social democracia europeia. Ficar aquém ou à parte das decisões sem as condicionar fortemente agora, será o seu fim e o fim do projeto europeu que sempre defendeu.

2) Schaeuble estará defender a saída “temporária” da Grécia da Zona Euro. Hans Werner Sinn, um dos “sábios” alemães com mais cartel junto da CDU/CSU e não só, anda há anos a dizer que a Grécia e provavelmente Portugal, a Espanha e mais alguns países deviam sair temporariamente da Zona Euro. Googlai por aí. Vá ide.

3) Posto isto e visíveis que estão, agora para o grande público, quais as intenções Alemãs, a Zona Euro devia institucionalizar um programa de apoio financeiro aos países interessados em sair do Euro. O plano Schaeuble. Eu apoio.

4) Chega-se a um ponto em que ser realista é uma obrigação. Nada será como achamos que teria de ser para funcionar numa Zona Monetária Europeia sem que a Alemanha alinhe. O plano alemão é outro, apartemo-nos quanto à moeda.

5) É preciso salvar a União Europeia da Zona Euro.

6) Devemos concentrar-nos em como minimizar o impacto nefasto da saída do €uro e não penso no curto prazo, mas no problema clássico: pequena economia aberta com moeda vulnerável facilmente especulavel.

7) Sei que custa mas Schaeuble está a fazer-nos um favor. Aproveitemos. Ofereçamos o euro como está à Alemanha. Arranjemos uma forma de os países “impuros” (à luz do modelo alemão) saírem da forma o mais benigna possível (e em conjunto, de preferência), e preservemos a UE. Quem quiser que arranje outra moeda comum, se for caso disso, com um modelo exequível, economicamente são e democraticamente sustentado. Não é preciso inventar a pólvora. Ou então que cada um regresse à sua moeda nacional.

8) Só não vê o que nos espera com este grande plano alemão quem não quer. Lutar pelo projeto europeu passa por desmantelar ou reconfigurar o €uro ou ainda perdemos tudo.
Por vezes é preciso reconhecer que se deu um passo maior do que as pernas para evitar cair num abismo.

9) É fundamental que haja perceção imediata do que está em causa pelo maior número possível de atores políticos. Schaeuble tem um plano e nós? Por onde queremos ir? Como? Com quem? Faça-se política.

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Política

Europa de muitíssimo curto prazo

Lideres ou ministros das finanças da Letónia, Eslovénia, Eslováquia, bem como o ministro da economia alemão e o presidente do Parlamento Europeu já falaram sobre os resultados e sinalizam que a falta de sensatez tem tudo para fazer escola entre as posições de quem hoje, objetivamente, está numa posição de força. Por aqui o pessimismo vai vencendo.
Mais uma vez a Europa ameaça tomar a pior atitude possível perante um problema coletivo que, em primeira linha, a penalizará a si própria. A falta de discernimento do passado que tantas desgraças provocou ameaça voltar a fazer das suas.
A única exceção de entre quem ocupa uma posição de poder veio do ministro das finanças francês, reconhecendo que não podemos repetir um erro que o seu próprio país cometeu há cerca de 100 anos que passou pela humilhação de um povo.
Como já disse hoje é preciso sensatez, aliás a sensatez e equilíbrio que ouvi há pouco na intervenção do PS bem que contagiava estes camaradas e governantes que me parecem incapazes de ir além da política caseira de muitíssimo curto prazo.

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Política Portugal

“Os mais intransigentes são os pequenos países”

“França acusa “países mais pequenos” de serem fatores de bloqueio com a Grécia @TSFRadio 

Finalmente o Ministro das Finanças Francês desmascara a cara de pau da nossa ministra das finanças (e de outros pequenos países) que em público vão dizendo que nada tem a ver com as negociações, que é com as instituições, e que, afinal, no Eurogrupo tem destruído qualquer hipótese de apoio. “Não. A Alemanha não é um factor de bloqueio. Posso garantir que o mais duro não tem sido a Alemanha; têm sido os países mais pequenos que, ao longo destes anos, têm feito esforços consideráveis”. Note-se que ninguém teve de implementar um programa tão extenso e doloroso como a Grécia. Ninguém. E ninguém teve consequências tão negativas.

Das incongruências do Syriza à estupidez portuguesa e de outros pequenos países que impedem o acordo com que outros condescendem se põe em perigo a União Europeia. Registe-se para que alguém não se lembre de mistificar ou de vir com ar pesaroso, hipocritamente capitalizar para ganhar mais um voto em setembro/outubro.

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Política Portugal

Europa: tragam-lhe comprimidos para a memória

Então não devemos confrontar os credores? Sim, claro!
A nossa desgraça também foi esta ao longo dos últimos anos. Podíamos ter sido um bocadinho mais como os irlandeses, por exemplo. Em vez disso tivemos um ministro das finanças que lá fora era confundido com os elementos da troika. Lembram-se?

Afrontar os credores, à moda do Syriza? Não, isso seria estúpido. Estou a chamar estúpido ao governo grego? Não me atrevo a tanto. Noto que nós não somos mesmo a Grécia, no sentido em que não passamos nem metade das provações. É difícil, de fora, saber exactamente em que ponto está a moral, o amor próprio,o ressentimento e a capacidade de diálogo dos gregos. Será que ainda querem ou é bom para eles ficar no Euro? Se até para Portugal vou tendo dúvidas (que aumentaram com este processo grego) como me posso atrever a zurzir nos gregos sobre esta matéria?

Passos Coelho pede
Passos Coelho curva-se.

No final deste cinco meses o que vejo é que em termos de gestão política estão bem uns para os outros, troika e governo grego. Muita sacanagem de parte a parte.
Mas em termos de responsabilidade quanto ao sucesso de um acordo não há comparação, a do eurogrupo é muito maior. Se, como hoje disse Merkel, a solidariedade é uma pedra basilar da União, então, numa posição de manifesta fragilidade do povo grego e onde há óbvia corresponsabilidade europeia no estado a que a Grécia chegou, a solução teria de ter isso em especial consideração. Como é que uma proposta grega tão bem recebida há exatamente uma semana passou a ser manifestamente insuficiente dois dias depois? Quem é que inventou obstáculos ao acordo? Porquê? Com que resultado?

Nós por cá temos que confrontar os credores com o fracasso das políticas seguidas, confrontá-los com uma alternativa exequível de mútuo interesse. A situação grega e as ameaças que acarreta devem servir para responsabilizar as partes precisamente para a necessidade de maior humildade, franqueza e inteligência na gestão da política europeia e de muito maior equilíbrio, racionalidade económica e social e menor apoio a preconceitos levemente racistas ou nacionalistas. Acima de tudo, os nossos políticos (locais e europeus) devem procurar abandonar a lógica de relacionamento credores/devedores. Esse ato singelo será fundamental para que ainda haja futuro para a União Europeia.
Sejamos crescidos. Ontem foste tu, hoje sou eu, amanhã quem sabe?

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Portugal

União Europeia?

Deixa aqui excertos de um texto cuja leitura recomendo vivamente (“WHERE IS MY EUROPEAN UNION?“), escrito a 28 de junho de 2015 por um europeu, Alex Andreou que não conheço de lado nenhum mas com o qual me identifico largamente:

“(…) I am a Europhile. Not only that, I am a product of the Union. I have structured my life around the idea of free movement; my identity around the notion that I can be more than one thing: Mykonian, Greek, Londoner, British, European. For the first time in my life, I am beginning to wonder, whether the European project is now simply too broken to be fixed. 

Do not misunderstand me. I am passionate about the notion of a Europe of partners, united around principles of solidarity and trade. I just think we have taken wrong turns. So many and so wrong that I feel very uncertain as to whether we can ever find our way back.  (…)

Last winter, I stood outside the Opera House in the centre of Athens looking at the posters in the window. I was approached by a well-dressed and immaculately groomed elderly lady. I moved to the side. I thought she wanted to pass. She didn’t. She asked me for a few euros because she was hungry. I took her to dinner and, in generous and unsolicited exchange, she told me her story.

Her name was Magda and she was in her mid-seventies. She had worked as a teacher all her life. Her husband had been a college professor and died “mercifully long before we were reduced to this state”, as she put it. They paid their tax, national insurance and pension contributions straight out of the salary, like most people. They never cheated the state. They never took risks. They saved. They lived modestly in a two bedroom flat.

In the first year of the crisis her widow’s pension top-up stopped. In the second and third her own pension was slashed in half. Downsizing was not an option – house prices had collapsed and there were no buyers. In the third year things got worse. “First, I sold my jewellery. Except this ring”, she said, stroking her wedding ring with her thumb. “Then, I sold the pictures and rugs. Then the good crockery and silver. Then most of the furniture. Now there is nothing left that anyone wants. Last month the super came and removed the radiators from my flat, because I hadn’t paid for communal fuel in so long. I feel so ashamed.”

I don’t know why this encounter should have shocked me so deeply. Poverty and hunger is everywhere in Athens. Magda’s story is replicated thousands of times across Greece. It is certainly not because one life is worth more than another. And yet there is something peculiarly discordant and irreconcilable about the “nouveau pauvres”, just like like there is about the nouveau riches. Most likely it shocked me because I kept thinking how much she reminded me of my mother. 

And, still, I don’t know whether voting “yes” or “no” will make life better or worse for her. I don’t know what Magda would vote either. I can only guess. What I do know, is that the encounter was the beginning of the end of my love affair with the European project. Because, quite simply, it is no longer my European Union. It is Amazon’s and Starbucks’. It is the politicians’ and the IMF’s. But it is not mine.

If belonging to the largest and richest trading bloc in the world cannot provide dinner for a retired teacher like her, it has no reason to exist. If a European Union which produces €28,000 of annual GDP for every single one of its citizens cannot provide a safety net for her, then it is profoundly wicked. If this is not a union of partners, but a gang of big players and small players, who cut the weakest loose at the first sign of trouble, then it is nothing.

Each one of us will have to engage in an internal battle before Sunday’s referendum. I will be thinking of you, Magda, when I vote. It seems as honest a basis to make a decision as any. “

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Economia Política

O provincianismo pode matar a Europa

Nós somos a Grécia e somos a Alemanha e somos Portugal. A Grécia não é o Syriza, a Alemanha não é Merkel e nós não somos Passos.
Há a política grande, do projeto europeu, e a política menor de vistas curtas que se mede pelo líder nacional de cada momento.
Quando separamos demasiado uma da outra, o líder se resume à sua nacionalidade e a cada momento, a coisa corre mal. As tragédias aparecem e aprofundam-se.

Por onde queremos ir? Até onde os nossos líderes nos conseguem levar? O que os move verdadeiramente quando têm que procurar soluções?

De que têm medo?

Eu troco já uma maioria absoluta do PS por uma solução duradoura, económica e politicamente aceitável por todos que resolva de forma permanente o problema grego e dos restantes países, peças do dominó (como o nosso), que se alinham face a uma certa ideia auto-destrutiva, flageladora de Europa.
E tu?

Adenda: Vale a pena ver este dois minutos da intervenção do líder do Liberais no parlamento europeu: Guy Verhofstadt.

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Política

Se até o Hollande já aceita austeridade…

Com o que a Alemanha quer ou está disposta a querer hoje: sem união bancária digna desse nome; sem banco central com os poderes clássicos completos; sem qualquer mecanismo de reação multilateral credível a crises típicas ou atípicas; sem qualquer vislumbre de um regresso a uma Europa das Nações (onde a Alemanha voltar a ser um entre 28) e com a progressiva conversão numa Europa de demonstrações financeiras, onde a política do cidadão se resume à fronteira local; com simpatia crescente por derivas pouco amigáveis para com a livre circulação de pessoas, etc, etc , a União Monetária e Europeia resistem quanto tempo (“mesmo” com todos a seguir o novo Hollande)?

Eu não faço ideia, mas desconfio que não dura muitos anos tempo. É que se a solução única se prova que não gera um futuro desejável ou um equilíbrio sustentável no espaço da União, é legítimo e expectável que muitos resolvam genuinamente procurar soluções em outros protagonistas além dos que, ou defendem a solução única, ou a encaram como uma fatalidade no exato momento em que assumem o poder, sem acrescentar qualquer agenda consciente desta ameaça.

Mas se calhar sou eu que estou a ver mal. Se até o Hollande agora é pela austeridade, é porque a austeridade em toda a linha é o caminho único. Oremos.

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Política

Querer sair do Euro é ter um desejo mortal?

Primeiro de tudo, devemos sair do euro?

Pessoalmente ainda não sei. Duvido mas estou cada vez mais desconfiado que o faço quase exclusivamente porque tenho uma deformação, um à priori que me motiva, ainda acredito que é possível emendar a mão, assumir de forma consequente o que ficou para construir de modo a que a ideia de moeda única não se converta definitivamente numa história de tragédia e num rastilho que pode muito bem acabar com a União Europeia ou, pelo menos, com o que muitos de nós esperariam que esta viesse a ser no futuro próximo.

Talvez seja por esperança, talvez seja por teimosia, o que é certo é que sonho de fazer da união monetária uma parte e não um fim, um instrumento que seja um contribuinte decisivo para a construção da Europa das Nações, alimenta a persistência, a batalha empenhada pelo sonho europeu.

Mas será que essa teimosia, essa esperança está autorizada pelos sinais dos tempos evidenciados pela nossa história coletiva recente, enquanto europeus, na resolução dos patentes desequilíbrios económicos e financeiros internos à União?

Acreditando que o Euro era  e deve ser visto como um processo em construção, à imagem da própria União e sendo evidente que não há de todo garantias de que o resto do edifício venha a ser edificado;

sendo clara, para mim, que qualquer manutenção das soluções atuais para enfrentar os desequilíbrios financeiros e económicos não terá outro destino que não um esmagador empobrecimento dos elos mais fracos de um sistema que muito poucos, com autoridade democrática, admitem alterar;

sendo evidente que o caminho que se está a fazer nos afasta de qualquer ensejo de cumprimento contratual seja o contrato relevante o social ou o financeiro com os credores;

sendo assim inteiramente expectável que, a prazo, e perante a continuada exacerbação de juízos moralista e consequente ressentimento causado, o destino final possam muito bem ser a acumulação de todos os piores cenários, culminando com uma expulsão/saída acrimoniosa da Zona monetária;

Perante tudo isto que me parece, hoje, e se nada de fundamental mudar, inexorável, que tipo de atitude, posição e objetivos deveremos nós (portugueses ou de outra nações) perseguir de modo a reagir a esta situação?

Ou pelo menos, que alternativa deveremos tentar trilhar se, em breve, se tornar definitivamente evidente que, perante a correlação de forças e vontades, perante a enésima comprovação do fracasso e perante uma previsível diabolização das vítimas desse fracasso, a margem para manter a esperança e o sonho se torne incompatível com a própria capacidade de sonhar?

Confrontados com nós mesmos, portugueses, e convidados pelos nossos pares com o poder da conjuntura a resolver os “nossos problemas”, cuidar de clamar que os problemas são de todos (quando não nos estão a ouvir), será nobre e digno mas muito provavelmente inútil e insuficiente se formos caminhando para uma sombra do que qualquer povo merece ser.

Não há Europa nem nunca haverá, num futuro minimamente objetivável sem Nações, sem os seus povos. Ignorar isso sob o pretexto de um sonho que justificará manter até ao limite um caminho abismal sem vestígio de solidariedade genuína e tão-pouco inteligência e reconhecimento do bem comum, poderá, sublinho, poderá, em breve, passar a ser o pior serviço que podemos prestar à própria génese do sonho desejado.

Recuperar a dignidade, retirar a autoridade a quem não consegue servir  qualquer rumo de construção ainda que a coberto de auxílio, assumir os nossos atos de forma responsável perante nós próprios e perante os nossos pares (que estão longe de se reduzir à troika ou a um diretório mais ou menos fundamentalista em termos económicos), em liberdade e, espero, que com mais sabedoria, poderá passar a ser o nosso principal objetivo político a breve prazo.

Sair do Euro, renegociar a dívida, reformar o sistema político, ajustar o papel do Estado numa perspetiva estratégica e, muito provavelmente, assumir um regime de exceção temporário ainda que duradouro que viole regras importantes em vigor na União Europeia, poderá fazer parte do cenário político mais razoável a breve prazo.

Em bom rigor, controlamos muito poucas variáveis do nosso destino e podemos fazer pouco (ainda que mais do que temos feito) a nível europeu para que se retome a construção do edifício incompleto cujas lacunas, em boa parte, aqui nos trouxeram. E se, tal como um eleitor descrê de um político que não o convence da justificação para um sacrifício, nós, como povo, não descortinarmos como o plano imposto se integra no mapa que seja o do rumo para um futuro melhor? Que mais fazer se não procurar alternativas que, pelo menos a prazo, no deem garantias de atingir esse mesmo futuro que nos foge?

Com as cartas que temos em cima da mesa, a que podemos juntar algumas premissas habituais que ditam o comportamento humano, dos políticos de conjuntura  e dos Estados, não consigo deixar de acreditar que hoje, o cenário mais provável e desejável, a prazo, poderá não andar longe daquele que procuramos a todo o custo evitar. A escolha corre o risco de ser tragicamente facilitada pela inevitabilidade das consequências da persistente estupidez.

Se chegarmos ao cenário que, institucional e formalmente nos afastará mais do sonho antigo, quererá isso dizer que a União Europeia acabou ou nós para ela? Quererá isso dizer que regressaremos ao orgulhosamente sós? Perante a alternativa, acredito que será a que melhor poderá preservar qualquer esperança de que se retome o projeto Europeu. Algo que manifestamente enfrenta as consequências de graves erros de que até hoje não se soube desenvencilhar. Se não o soubermos fazer em conjunto, a via das pedras, tomada por um povo soberano, poderá vir a ser a única verdadeira esperança de sobrevivência do projeto europeu. De resto, não consta que o destino final de qualquer (historicamente) corriqueira reestruturação da dívida conduza inevitavelmente o respetivo povo a temível e duradoura lógica isolacionista.

Estar com a União Europeia, nunca poderá ser sentido como pior do que não estar. Será esse o patamar contra o qual deveremos, a cada dia, apreciar a nossa posição no tempo e no modo. De preferência conseguindo realizar essa avaliação indo além do que temos à frente do nariz, mas sem esquecer o que temos na barriga.

Com cumprimentos para o Paulo Pedroso

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Economia Política

No dia em que se acabaram as Golden Shares (em Portugal)

” (…) Há nove países que mantêm as suas acções douradas, apesar da pressão de Bruxelas e das sentenças do Tribunal de Justiça Europeu. Entre elas, estão dois países insuspeitos e muito liberais, o Reino Unido e a Irlanda. .”

André Macedo in Dinheiro Vivo.

Só de pensar que foram inventadas por Margaret Thatcher.