Em 20 anos ninguém sabe o que vai acontecer. É verdade. Pode até acontecer que o rigor do tratado orçamental (uma construção pseudo-técnica que no final contará com o middle of the road assessment de cariz político) seja muito mais parcimonioso do que antecipado. No fundo, pode ser que os 0,5% de défice estrutural sejam literalmente para alemão ver e, na sua definição, muito mais reativo à realidade das coisas do que se teme. Sim, pode acontecer que na fachada se mantenha a cara austera e nos bastidores se labore com perfeita consciência de como funciona MESMO uma economia. Pode ser. Que assim seja, digo mesmo, à falta de melhor.
Mas pode também acontecer algo como sucedeu no passado recente da União Europeia: uma crença num projeto novo que haveria de se ir completando e aperfeiçando e que, contudo, nunca se moveu, nem perante alargamentos ambiciosos e a alta velocidade, nem acordos comerciais com impacto diferenciado nas economias europeias. Suponho que há 20 anos, aqueles que diziam que o Euro não iria correr bem também terão ouvido alguém calá-los dizendo que em 10, 15, 20 anos tudo iria mudar na construção do Euro.
Não quero com isto dizer que no futuro não aconteça precisamente o que tem de ser feito, digo apenas que hoje, face ao compromisso existente e ao que se conhece e reconhece como possível e mais previsível, anunciar grandes mudanças a 20 anos não é argumento de peso para avaliar a bondade e a justificação de inquietações manifestadas. Creio até que calar essas inquietações, como durante 12 anos calámos a necessidade de completar o fundamental da União Monetária, não nos levará firmemente a nenhum lado que nos interesse.
E termino com uma certeza, se o que muitos dizem que só se pode fazer pela calada, às escondidas dos mercados e dos eleitores dos países credores (!!!) demorar o tempo suficiente, uma bela rabanada de vento levará muitos mais dos nossos ao tapete, dificultando as probabilidade de ressureição. É isto a política a verdade à escala local e europeia. Isto e mais um punhado de gente arrogante e mal educada que não sabe sequer por onde começar a respeitar e discutir a opinião alheia. Cumprimentos especiais para as honrosas exceções.