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Política

Europa: Que nos lixem os mercados?

Ninguém consegue explicar com os argumentos habituais  com que nos convidam a definir a política económica e social pelo andamento nos mercados da dívida pública, porque é que bons alunos, maus alunos e alunos assim-assim estão a conseguir colocar dívida a preços cada vez mais baixos e, em vários casos, em mínimos absolutos desde que se criou o Euro. Se calhar era bom repensarmos a forma como definimos culpas, medimos rigor económico e definimos ou recusamo-nos a definir uma política fiscal comum.
É que o indicador mercados por estes dias (e em muitos outros dos últimos anos) simplesmente não tem leitura nem consistência para ser fulcro de qualquer projeto político e económico. Se há paradoxo evidente, que haja ilações claras.
Na Europa temos de nos entender e procurar um núcleo de interesse comum. E nos últimos dias a História tem-nos avivado alguns que traziamos esquecidos. Enquanto simplificarmos análises confiando em mercados, em fantasmas com quase 100 anos, em meias histórias sobre a crise recente e em preconceitos moralistas disfarçados de economicidade (com toque levemente xenófobo) mas sem fundamento factual, não nos safamos.

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Política

Um desempregado como grão de areia no saco virtuoso de Vitor Bento

Os sacos de pesos com que Cristiano Ronaldo treinava para ser o melhor do mundo e de que Vitor Bento fala como uma virtude a acarinhar para construir algo melhor, transposto para o país são o quê?
Compara-se o sacrífício imposto com enormidades, brutalidades e colossalidades a centenas de milhares de portugueses com sacos de areia para treinar o músculo, sem uma palavra para o absurdo e ineficácia prática do excesso, e no final afirma-se que quem anda inquieto à procura de um caminho debatido e refletido por todos precisa de estudar. Pois precisa, precisamos sempre, E de que precisará Vitor Bento?

A leviandade e ligeireza com que nos esquecemos do que se está a passar no país e com o que se pode razoavelmente progetar para o futuro assusta-me e mobiliza-me.

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Política

Quem descobriu agora que o PS assume que não tem varinha mágica ponha o dedo no ar

Óscar Gaspar, um dos mais influentes membros do órgão executivo do PS em matéria de gestão orçamental afirmou que: “Não há varinhas mágicas mas PS trabalhará para repor salários”

Segundo o PSD esta afirmação revela que “caiu a máscara ao PS”.

Nada disto é verdadeiramente espantoso, o  que é espantoso é que houvesse quem dissesse que o PS alguma vez tinha prometido ou garantido que isso se faria com um passe de mágica, num instante. Recordo por exemplo que quando todos os indicadores estavam a sair frustrados face às previsões da troika, com a recessão a ser muito pior, com o desemprego a ser muito pior, a dívida a evoluir muito pior, o PS  defendeu que o desvio não se resolvia com MAIS austeridade. No discurso de muitos o “MAIS” caiu para fazerem do PS o tal partido irresponsável.
Curiosamente, renegociou-se a dívida (com mais tempo e mais algum dinheiro), assinou-se mais austeridade e uns meses depois, um misto de  recuperação económica global, de fuga para a frente de muitos que emigraram e um efetivo travão a MAIS austeridade (via TC) começaram a dar proveitos. Os que ridicularizaram o PS quando antes tinha dito que precisavamos de mais tempo e mais dinheiro…


Quanto ao resto houve divergências importantes na composição da austeridade. Onde o PSD/CDS concentraram o sacrifício (excessivo e imediato) sobre a Função Pública e reformados, o PS teria disperso por todos os portugueses de igual rendimento minimizando a tomada de decisões dramáticas de muitas famílias e evitando o colapso do funcionamento eficaz de muitos serviços do Estado. Ou seja, onde o PSD/CDS optaram por violar a constituição, o PS muito provavelmente teria conseguido respeitá-la.
E onde o governo sempre quis ir além da troika desprezando qualquer entendimento (sendo arrogante mesmo), o PS teria desempenhdo o papel que  se esperaria de um governo que zelasse pelos interesses dos
portugueses: informado e consciente de que sem disputa política junto dos nossos parceiros (que preferem ser apenas credores), ficariamos muito pior.

Infelizmente aí não seguimos o exemplo da Irlanda, que curiosamente, sendo ainda mais papista do que nós (face à fé católica, não face à troika) lidou muito melhor  com a acusação da “culpa” e não cedeu a tudo o que lhe apresentaram. Lá foram negociando (mais os gregos) e nós  beneficiando apenas, parcialmente, do que eles conseguiram, como free rider bem comportado.

Entretanto temos menos produto, menos recursos, mais miséria, muito mais desemprego e muito mais dinheiro em dívida e necessidade de tempo para o pagar. Caiu a máscara ao PS, dizem eles. Não é verdadeiramente espantoso?

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Economia Política

Que sabes tu do futuro, puto?

Em 20 anos ninguém sabe o que vai acontecer. É verdade. Pode até acontecer que o rigor do tratado orçamental (uma construção pseudo-técnica que no final contará com o middle of the road assessment de cariz político) seja muito mais parcimonioso do que antecipado. No fundo, pode ser que os 0,5% de défice estrutural sejam literalmente para alemão ver e, na sua definição, muito mais reativo à realidade das coisas do que se teme. Sim, pode acontecer que na fachada se mantenha a cara austera e nos bastidores se labore com perfeita consciência de como funciona MESMO uma economia. Pode ser. Que assim seja, digo mesmo, à falta de melhor.
Mas pode também acontecer algo como sucedeu no passado recente da União Europeia: uma crença num projeto novo que haveria de se ir completando e aperfeiçando e que, contudo, nunca se moveu, nem perante alargamentos ambiciosos e a alta velocidade, nem acordos comerciais com impacto diferenciado nas economias europeias. Suponho que há 20 anos, aqueles que diziam que o Euro não iria correr bem também terão ouvido alguém calá-los dizendo que em 10, 15, 20 anos tudo iria mudar na construção do Euro.
Não quero com isto dizer que no futuro não aconteça precisamente o que tem de ser feito, digo apenas que hoje, face ao compromisso existente e ao que se conhece e reconhece como possível e mais previsível, anunciar grandes mudanças a 20 anos não é argumento de peso para avaliar a bondade e a justificação de inquietações manifestadas. Creio até que calar essas inquietações, como durante 12 anos calámos a necessidade de completar o fundamental da União Monetária, não nos levará firmemente a nenhum lado que nos interesse.
E termino com uma certeza, se o que muitos dizem que só se pode fazer pela calada, às escondidas dos mercados e dos eleitores dos países credores (!!!) demorar o tempo suficiente, uma bela rabanada de vento levará muitos mais dos nossos ao tapete, dificultando as probabilidade de ressureição. É isto a política a verdade à escala local e europeia. Isto e mais um punhado de gente arrogante e mal educada que não sabe sequer por onde começar a respeitar e discutir a opinião alheia. Cumprimentos especiais para as honrosas exceções.
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Política

Mais um novo partido a bater à porta da democracia

O LIVRE nasceu e tem uns modos diferentes. É um novo partido que tem gente muito boa e outra que não conheço. Tem neurónios e vontade e há-de ter uma imensa ingenuidade – o que em política é coisa de raro proveito (que não nulo…) e potencial desgraça. O que quer ser, sabe-se um pouco. Sabe-se também que se irá construindo, mais do que se propunham outros (ainda que na prática seja assim com todos). Pois que venham por bem e que se estabeleçam. Que pe0ecebam que só vale a pena com coração de maratonista. E que para o meu partido sejam uma saudável ameaça (até nos modos de fazer política e de organização interna, se forem capazes) e um adversário respeitável. Se assim for, terão certamente um lugar decente na nossa democracia. Afinal, é preciso sair do sofa, ou, como diz um amigo meu, descalçar a pantufa. E agora, faça-se política da boa que o país e o mundo bem precisam. Felicidades!

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Media Política

José Camilo Gomes Ferreira Lourenço

Que tal darem lugar aos mais novos?” Quem começa assim a sua argumentação é de facto um tipo de valor. Noutras terras e noutros tempos ouviam-se os mais velhos, dava-se-lhes até maior peso às palavras.  Até porque já tinham errado mais, já tinham ganho tempo para se humildarem, para poderem antecipar causas e consequências. Emprestar saber, perder vaidade.

Aqui menoriza-se uma pessoa à cabeça pela idade que tem. É logo o argumento decisivo. Tau! És velho, asneiraste de certeza em tantos anos. Desaparece!

É uma reação natural, típica de alguma “juventude” mal formada, arrogante até a um cúmulo difícil de imaginar. Essa, contudo, dificilmente chegará a velha, dificilmente terá lições de jeito para partilhar e, enquanto “nova”, pouco mais fará do que disparar ao lado, empolgada pelo espelho-meu.

A humildade e o que se aprende no erro e no acumular do passar dos anos e das comédias e tragédias assistidas e protagonizadas provavelmente nunca os atingirão. Serão eternamente “novos” e impolutos. Uns merdas.