Acho que todos, pelo menos uma vez na vida, deviamos tentar exercer os nossos direitos de cidadania oferecendo-nos para participar na vida política activa. É assim uma espécie de objectivo pessoal que juntaria à tríade: um livro, um filho, uma árvore.
Tenho a certeza absoluta de que a democracia melhoraria um bocadinho. Haveria mais de nós a perceber as falhas, lacunas e aberrações do sistema representativo, haveria mais de nós a perceber quanto custa e o que exige a participação cívica activa, haveria mais de nós disponíveis para contribuir para a sua melhoria promovendo a selecção natural dos políticos e das políticas.
Depois da carta aberta a Jorge Coelho que aqui deixei, agora é nas presidenciais que alguns membros partidários enchem a boca para denegrir e menorizar os projectos políticos apresentados pela sociedade civil ou simplesmente não apadrinhados por um partido.
Foi também nestas eleições que alguns cidadãos, por exemplo os que apoiaram Manuela Magno, sentiram na pele as dificuldade de jure e de facto do exercício da cidadania. Apesar das suas frustrações, eles ajudaram a alertar mais algumas consciências. Não é preciso ser apoiante de cada uma das candidaturas para percebermos o que está mal.
Sou optimista neste aspecto: aos poucos a mudança vai-se fazendo.
Os riscos de abrir à "sociedade civil" a possibilidade de um papel mais activo nas áreas feudalizadas pelos partidos são manifestamente inferiores aos danos da estabilidade podre que resiste no seio do PS e do PSD que vai inferiorizando o país e destruindo a credibilidade e utilidade do Estado. Nunca fomos mais democratas do que hoje, cabe-nos a nós garantir que a situação actual seja, no futuro, uma má recordação.
A ler: este texto de 1978 da autoria de Sousa Franco que o José recuperou na Grande Loja do Queijo Limiano.