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Política

Grécia e Europa: a pulsão para a mentira

Vargas Llosa para compôr o ramalhete de uma tese que quer fazer vingar afirma que o Syriza renega qualquer responsabilidade dos governos anteriores e imputa exclusivamente à austeridade todos os males atuais da Grécia. Tomando o valor facial do que o Syriza defende (não tenho forma de fazer algo diferente nem de me comprometer com mais do que o que afirmam publicamente e que avalio) estes parágrafos de Vargas Llosa publicados no DN (ver em baixo) são objetivamente incompatíveis com o que o atual governo da Grécia anda a dizer. Ou seja, são mentirosos. O governo grego atual não só diz reconhecer erros crassos de governos anteriores como diz querer convencer os parceiros europeus de que há medidas concretas por desencadear que atacam esses males. Mas assumir isso não implica desresponsabilizar a “solução da austeridade” como um garrote que não só não resolve como objetivamente impossibilita qualquer solução, pelo menos na dose prescrita.

Como há dias aqui perguntava: se os gregos chegarem a uma taxa de desemprego de 30% acham que já dá para nos pagarem? Ou será 35%? Talvez 40%? 50%? São contas complicadas, não ganhamos nada em mistificar a realidade e em exigir atuação que faria sentido numa realidade paralela…

“As desgraças são uma dívida pública vertiginosa de 317 mil milhões de euros para com a União Europeia e o sistema financeiro internacional que resgataram a Grécia da falência e que equivale a 175% do produto interno bruto. Desde o início da crise, o PIB da Grécia caiu cerca de 25% e a taxa de desemprego chegou quase aos 26%. Isto significa o colapso dos serviços públicos, uma queda atroz dos níveis de vida e um crescimento canceroso da pobreza. Se ouvirmos os dirigentes do Syriza e o seu inspirado líder – o novo primeiro–ministro, Alexis Tsipras – esta situação não se deve à inépcia e à corrupção desenfreada dos governos gregos ao longo de várias décadas, que, com uma irresponsabilidade delirante, chegaram a apresentar balanços e relatórios económicos forjados à União Europeia para dissimular os seus prejuízos, mas sim às medidas de austeridade impostas pelos organismos internacionais e a Europa à Grécia para a resgatar da impotência a que as más políticas a haviam conduzido.”

Fonte: http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=4401903

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Economia Política

O que terá a Grécia de fazer para nos pagar?

Se os gregos chegarem a uma taxa de desemprego de 30% acham que já dá para nos pagarem? Ou será 35%? Talvez 40%? 50%? São contas complicadas, alguém que me ajude.

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Economia Política Portugal

O que é preciso para a Zona Euro funcionar?

O que é preciso para a Zona Euro funcionar é politicamente inaceitável para os estados mais poderosos (sonhar com uma união fiscal completa é apenas isso, um sonho). O que é preciso para as pequenas democracias e economias que estão na zona euro funcionarem (mesmo com base zero seria difícil e não há base zero nenhuma) é politicamente inaceitável para os estados mais poderosos.
O que é preciso para percebermos que é um projeto condenado e que o nosso desígnio nacional dos próximos anos deve ser mitigar ao máximo o colapso que se avizinha?
Isto não quer dizer que o próximo PM deve ir a correr tentar tirar o país do Euro. Mas quer dizer que deve preparar a sua política interna e a nossa participação externa consciente desta impossibilidade e sendo vocal quanto a ela: nesta zona euro não temos futuro.
Não é uma vontade, é uma inevitabilidade económica determinada por um constrangimento político que pouco ou nada controlamos.
Haverá vida depois do euro, difícil (pelo menos no início) mas haverá. Não sei muito bem que país existirá dentro dele se por azar a negação da inevitabilidade durar muitos anos, mas parece-me que será algo insustentável em democracia e talvez mesmo como Estado. Acho que temos algumas “amostras” disponíveis, e isto já dura há um ror de anos sem que a sagrada solução única produza os efeitos estruturais que não pode produzir.