Visto o noticiário na televisão  revelam-me que Sócrates mudou umas leis em proveito próprio porque tem medo de ser apanhado e mudou outras que o podem prejudicar porque acha que nunca será apanhado… Cada um a inventar as narrativas que quer conforme acha conveniente… Mais valia estarmos calados e aguardar pela justiça, não? Mas não estamos, o julgamento já está em curso. Posso ao menos denunciar as contradições sem perder a legitimidade de fazer o juízo que achar adequado quando efetivamente houver factos e provas? Cá vai.

Entretanto a sentença já transitou em julgado. Parece-me óbvio que o caso José Sócrates está resolvido. Eu sou ignorante, inteiramente. Não tenho nenhum à priori sobre a culpabilidade de Sócrates. As suspeições anteriores para mim não contam como agravante, nem a sua não fundamentação/concretização como atenuante. Julgue-se este caso. Não alinho nestes julgamentos pelos media, contudo. Nem de Sócrates, nem de ninguém. Quando os ses forem prova cá estarei para a minha avaliação, para já vejo interpretações que mudam ao sabor da conveniência e isso incomoda-me. Vejo-o como um sinal de doença grave.

Prefiro não “acreditar” em nada, evito estados de alma ou sentenças circunstanciadas pela luta política e pelos media, quando o caso é de justiça. As minhas divergências quanto a vários episódios de ação política dos governos de José Sócrates acabam por não ser para aqui chamados. E prefiro não extrapolar conclusões com buracos de conhecimento (por exemplo, para justificar gastos não podemos conhecer apenas os fluxos, temos de conhecer também o stock, eventual riqueza familiar que eu não sei se tem ou não tem). Para muitos, o julgamento político está feito (que é legítimo e já foi aliás sufragado nas urnas) mas está também concluido o julgamento judicial (o que desprezo). 
Uma coisa é certa, até ao momento, o que sabemos é que alguém violou a lei comunicando a detenção para interrogatório e prejudicou o interrogado (parece que ainda sem culpa formada – vai para o terceiro dia) e prejudicou o próprio exercício da justiça. O resto ou é invenção dos media ou é outra violação da lei. Será possível que toda a acusação esteja mesmo já escarrapachada nos media? Isto é desejável e serve a justiça? Mais uma vez parece-me caso para consternação. Não há maneira de nos livrarmos disto. Ou acabam com o segredo de justiça de uma vez e temos acesso a informação sem especulação ou conseguem punir quem promove as fugas, fugas que colocam sob suspeição quem conhece os detalhes do processo: ministério público ou polícias ou juíz. Precisamente aquilo de que não precisamos num caso destes (ou em qualquer outro já agora).

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