Imaginem um indíviduo que passou quase toda a sua carreira política a disputar internamente, no seu partido, o poder. O adversário era sempre o seu companheiro ou o seu camarada. Era sempre esse que se lhe opunha ao seu objetivo. Os políticos de outros partidos ou eram irrelevantes para a contenda interna ou eram inclusive aliados partilhando com ele o inimigo comum.
Imaginem que um dia essa pessoa chega a uma posição na qual o adversário interno foi vencido e tem de se dedicar exclusivamente a opor-se àqueles com quem até ali, mais ou menos publicamente, tinha partilhado argumentos contra o adversário interno.
A tarefa adivinha-se difícil, até porque a narrativa dos agora adversários fora por ele partilhada durantes anos a fio e resumia-se a simplisticamente eleger como único culpado dos problemas em debate o seu antigo rival interno.
Ah que saudades de se poder virar contra o seu adversário habitual, o companheiro ou camarada que tantas vezes conseguira superar. E que energia ele recupera quando precisamente, perante a ineficiência da oposição aos adversários de outros partidos, o adversário interno ganha ânimo e volta a dizer presente e lhe disputa o poder. Tudo volta a fazer mais sentido, a genica perdida que alguns nunca viram publicamente ressurge e uma sensação de vitalidade preenche-o e enebria. Tal como nos bons velhos tempos…
Fim.