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É impossível não imitar as ideias de António José Seguro

Em 2011, António José Seguro era radicalmente contra as primárias.

Em 2011, António José Seguro era radicalmente contra os debates públicos na disputa da liderança do PS. Impediu mesmo que dois deles (com Assis) feitos em Lisboa e Porto pudessem ser transmitidos fora das paredes partidárias.

Em 2011, António José Seguro era contra um pedido de fiscalização da constitucionalidade do Orçamento de Estado 2012 que acabou por ser imposto por um grupo de deputados do PS (no pleno exercício dos poderes e deveres que lhes são conferidos pelos seus representados nos termos da lei)  que em consciência acreditaram que não poderia pactuar com um Orçamento inconstitucional. O Tribunal Constitucional deu-lhes razão.

Hoje, António José Seguro é o campeão das primárias.

Hoje, António José Seguro teria feito muitos debates com António Costa mesmo antes de haver candidaturas oficializadas e acusa o seu contendor de coisas feias (que recuso reproduzir) por não se ter disponibilizado a ir além do que estabelece o regulamento das primárias – três debates televisionados em canais de emissão nacional.

Hoje, António José Seguro usa frequentemente as sucessivas declarações de inconstitucionalidade que o Tribunal Constitucional veio a confirmar relativas a normas dos vários orçamentos de estado (inclusive o de 2012) como legítimo argumento contra o governo.

É certo que continua a dizer que foi vítima de traição por parte de alguns deputados, é certo que se denigre (curiosa palavra) com os argumentos que hoje usa sobre opções que eram suas no passado e é certo que se converteu num campeão das primárias apenas depois de ter surgido um amplo movimento de apoio à interpretação política pós- europeias que lhe quer disputar a liderança, mas Seguro é, com tudo isto, cristalino quanto ao que podemos esperar dele enquanto Primeiro-Ministro. Muito golpe de asa, muita capacidade de reinvenção, total disponibilidade para ridicularizar rapida e inapelavelmente o seu EU passado.

E o bónus final é este: é praticamente impossível não imitar as ideias de António José Seguro.

Em certas circunstâncias, um adversário temível.

 

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Partido Socialista Política

Reforma eleitoral de Seguro: do disparate à imitação por antecedência

De volta à política nacional e ao PS. Uma coisa é certa, António José Seguro evolui na sua opinião a uma velocidade estonteante. Ainda há dias defendia tonitroante do palanque que devíamos ter 180 círculos uninominais para 180 deputados querendo assim mostrar “coragem”. Ou terá sido antes uma prova de vida populista em pânico perante a oposição mais estruturada de António Costa? Afinal quem entre os descontentes recusa reduzir o número de deputados, “essa corja”? Basta ouvir o que decorre dos estudos de opinião de deteção dos eixos do populismo que engrossam fileiras Marinhistas. Seguro apareceu assim, lesto (depois de 3 anos de zigue-zague inicial e posterior silêncio prático sobre esta questão) ao propor uma redução de deputados de 230 para 180 e convivendo de forma aparentemente descontraída com a estupefação com que muitos (incluindo apoiantes seus) encararam o absurdo da proposta. Rapidamente muitos perceberam que seria impraticável e uma boa proposta para impedir que algum dia algo mudasse no sistema eleitoral de tão absurda a iniciativa…

Mas agora Seguro mudou de opinião, afinal, desta vez alguém se lhe antecipou sugerindo algo mais sensato e sublinhando que reduzir o número de deputados criando círculos uninominais onde só os votos no vencedor contarão e todos os restantes irão literalmente para o lixo fracamente contribuiria para que os eleitores se sentissem representados. No mínimo, tal proposta exigiria um circulo de compensação nacional para garantir um mínimo respeito pela proporcionalidade. Uma reciclagem de milhões de votos (não exagero) que com 180 círculos uninominais em 180 deputados iriam para o lixo. Se bem percebo, ao ler a entrevista dada ao Paulo Ferreira e ao Sergio Figueiredo hoje no Diário Económico agora Seguro toma como proposta sua a existência do tal círculo de compensação que, naturalmente, impedirá que haja 180 círculos uninominais para 180 deputados.

Esta evolução pode ter-se inspirado em vários imitadores de Seguro – ainda que imitadores que se lhe anteciparam, como já vai sendo a sua sina – e apesar da clara melhoria ou evolução agora publicada que se saúda, pensar melhor antes de falar era o que se precisava de um candidato a primeiro-ministro. Acontece que, felizmente, desde finais de maio de 2014 estamos mesmo em período de escolha do melhor candidato do PS para Primeiro-Ministro. Há uma alternativa que não sendo salvífica ou “mágica” – imito agora o vocabulário de Seguro na entrevista – bate aos pontos as propostas de Seguro precisamente nestes particulares que implicam uma articulação ponderada desse grande recurso nacional que tem sido tão parcamente aproveitado. Qual será?

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Política Portugal

Nunca deixes para amanhã um elogio que podes fazer hoje

O que se passou hoje no Parlamento dignifica-o. Em pleno mês de agosto houve fiscalização da ação executiva (Ministra das Finanças) e regulatória/de supervisão (governador do Banco de Portugal). Houve deputados empenhados em todas as bancadas, houve resposta cabais em muitos casos e outras que hão-de dar ainda pano para mangas.

Nem tudo foi excelente mas hoje acho que se justifica destacar o que se fez pela positiva. Houve essencialmente deputados que se excederam pela positiva estabelecendo uma bitola que não vemos todos os dias e que também por isso deve ser sublinhada para compensar a facilidade de maledicência em que tantas vezes caímos quando há (ou não há) alguma justa razão de desconforto.

Hoje dou os parabéns aos deputados e aos eleitos e mandatados. E envio também um abraço especial e público ao Joao Galamba pelo competência demonstrada no longo pedaço da audição ao governador do Banco de Portugal que tive a oportunidade de acompanhar. É continuar assim que o país agradece.