Não discuto se essa perceção é justa ou injusta mas constato. Para mim a resposta é linear: José Sócrates.
E se não me engano nessa análise, o pior que o PS pode fazer para dificultar a sua própria afirmação como alternativa é ter este seu ex-lider a comentar as aberrações e sacanagens propostas pelo atual governo. Este facto, este protagonismo, que não será (nem tem de ser) controlado pela direção do PS, objetivamente faz mais pela não descolagem do PS nas sondagens do que o ar mais ou menos ensosso de Seguro que tantos fazem questão de apontar.
Não disputo que Sócrates tem o direito, sublinho apenas as consequências. Parecem-me óbvias e indesejáveis do ponto de vista do PS.
Convém também sublinhar que há muito tempo defendo que há uma lacuna interna no PS (com responsabilidades partilhadas por todos) quanto à ausência de um balanço sobre a última governação do PS. Um balanço que permitisse defender com particular empenho aquilo que se deve sublinhar e rever o que se fez de errado. Não havendo a perceção desse exercício, e com isso sendo difusa a defesa do que foi bem feito, talvez Sócrates se tenha sentido particularmente legitimado para a auto-defesa. Contudo, o que sublinho hoje é mesmo a consequência de toda esta cadeia de eventos. Ter Sócrates como um dos principais protagonistas do PS (e dos que alcança maior notoriedade pelo espaço que lhe é dado – em canal aberto, prime-time) a fazer a crítica ao atual governo é de doidos em termos de acuidade política. O governo atual agradece.
Originalmente públicado no 365 Forte.