Como interpretar esta reacção da Ordem dos Médicos à decisão do Governo de vir a permitir a um paciente escolher o medicamento que há-de comprar SE este for um substituto do receitado pelo médico, ou seja, se tiver o mesmo princípio activo:

” (…) O bastonário da Ordem dos Médicos disse hoje que “não há qualquer vantagem” em os doentes passarem a escolher a marca do medicamento que compram, considerando que a medida “põe em causa a vida das pessoas”.

“É um processo perfeitamente pernicioso que põe em causa a vida das pessoas”, disse à agência Lusa Pedro Nunes, que reagiu ao anúncio do secretário de Estado da Saúde sobre a possibilidade dos doentes poderem escolher, a partir de março, qual a marca do medicamento que compram, desde que respeitem a substância ativa prescrita pelo médico. (…)”

E como interpretar ainda uma afirmação destas que intencionalmente quer atemorizar para algo que não está em causa:

” (…) O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) adiantou que “não há qualquer vantagem para o Ministério da Saúde em implementar medidas dessa natureza”, sublinhando que “se os doentes soubessem que medicamentos queriam tomar e quais os melhores não iam médico”. (…)”


In Expresso

Os médicos receitam marcas de medicamentos antes de receitarem princípios activos?
Porque é que a prática corrente e experimentada em outros países tantas vezes apontados como modelares não pode fazer escola por cá e é mesmo apodada de representar um risco para a saúde pública?
Porque é que a Ordem dos Médicos nunca descobriu a alternativa que seria ajudar o Infarmed a melhorar os seus padrões de avaliação dos medicamentos, já que insiste em minar a confiança da população nos genéricos?

Note-se que o médico pode proibir que se troque o medicamento que receitou exigindo-se para tal que justifique na receita, por escrito, porque se recusa a permitir a substituição do medicamento, por exemplo, por um seu genérico.

Recentemente tive de ir a uma consulta. Receitaram-me um analgésico e um anti-biótico. O médico disse-me que não punha objecções em que comprasse um genérico do analgésico e acrescentou que não me recomendava substituição do anti-biótico (apesar de haver outro genérico significativamente mais barato) porque duvidava da qualidade dos genéricos disponíveis pois, por vezes, não apresentavam com rigor a gramagem rotulada do princípio activo (?!). Naturalmente, acreditei e fiquei informado para poder, mais tarde, se assim o entendesse, averiguar sobre a razoabilidade das dúvidas do médico.
Com a proposta que agora se faz promove-se a institucionalização deste diálogo e, claro, produz-se informação relevante para que a própria autoridade do medicamento analise a informação.

Se eu fosse uma pessoa desconfiada ainda acreditava que tudo isto não passa de uma forma de estrebuchar por parte da Ordem dos Médicos por ver diminuído o poder do médico em condicionar o ritmo de vendas do medicamento A ou B ao prazer dos favores devolvidos pelo respectivo industrial farmacêutico.
Um medicamento genérico é ou não é um medicamento genérico?

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