Ufa! E o presidente promulgou. Comunicou ao país que tinha uma espinha encravada. Lá disse ao seu eleitorado que teve de ser, que foi obrigado. Coisas da política. Ainda se tentou desculpar com a crise provando o seu imenso sentido de Estado. Bom, poderia de facto atrasar a coisa mais uns dias e prolongar o teatro mais um pouco. Uma gota de água no meio dos anos em que isto já dura, mas, ainda assim, uma vénia ao presidente.
Cada dia que passar sem que ocorra um cataclismo social será um dia a mais para ajudar a perceber que foi mais o ridículo do que o drama aquilo que andámos a discutir. Ainda há pouco ouvi na rádio quem espere uma catástrofe com esta lei, o fim dos tempos, uma bizarria.
Quem por aqui passou sabe que fui dos poucos que tentei o consenso, procurei defender precisamente uma solução que menorizasse o conflito (ainda que o achasse ridículo e um second best). A coragem/tacticismo político de outros resolveram-me a questão e ofereceram aquela que julgo uma solução mais feliz.
Na minha opinião demos um passo importante para dar sustento e coerência ao conjunto de valores ainda mal tratados que vamos tendo na sociedade europeia e lusitana. O respeito mútuo sai valorizado sem que se abram verdadeiramente conflitos genuínos.
Quem está bem reclama de cátedra e não fez genuinamente nada, em devido tempo, para que se abordasse o problema da desigualdade que existia. Geralmente, reagiu, procurou defesa a destempo invocando a necessidade de referendos quando os dados há muito haviam sido lançados e os portugueses intimados à opinião representativa. Até a batalha estar perdida acomodaram-se confiantes de que nada mudaria. Depois foram os mesmo que acusaram sem pingo de vergonha da falta de espírito democrático do outro que recusou o referendo. Felizmente, neste caso, a hipocrisia não vingou e respeitou-se a nossa democracia. Sei que não há um fim da história, mas também pro isso sublinho o que já disse o tempo exporá o ridículo, não sublinhará qualquer tipo de drama.
Outros desafios surgirão, bem mais complexos de abordar e menos lineares de tratar. Ainda assim, de menor prioridade. Nos tempos mais próximos não perdemos nada em concentrar-nos na ética, no combate à corrupção e na incompetência governativa (no Estado, nas empresas). Adiante!