Neste últimos 15 meses de crise financeira, Rui Marques juntou-se a uma notável galeria de personalidade nacionais e internacionais que erraram na apreciação da gravidade da crise que enfrentamos. No nosso rectângulo terá sido dos poucos com participação política a ter a coragem de assumir isso. Nestes termos (um generoso excerto):

“Na passada semana cometi o primeiro grande erro de avaliação política. Ao ser interrogado, no final duma entrevista com uma jornalista da LUSA, nas vésperas do Congresso do MEP, sobre a crise financeira internacional disse “o pior já passou”.

A entrevista ocorria no dia seguinte à aprovação, nos Estados Unidos, do Plano Paulson, onde se disponibilizavam 700 mil milhões de dólares para que a Administração americana pudesse travar a degradação da confiança do sistema financeiro. Embalado por essa expectativa manifestei essa convicção/desejo optimista. Ora, na semana seguinte, a hecatombe continuou. Agravou-se mesmo. O que fez da minha declaração um erro grosseiro e uma previsão totalmente errada. Aconteceu exactamente o contrário do que tinha expresso como minha convicção.
Perante esse erro óbvio só uma coisa deve ser feita: reconhecê-lo publicamente. Com todas as letras e sem hesitação. Como não causou prejuízo a ninguém – a não ser aos MEPs, por ter representado mal o nosso projecto – talvez seja dispensável um pedido de desculpas formal. Mas o reconhecimento do erro é essencial. (…)
Li uma vez, algures, que “Errar é humano. Atribuir o erro a outro é política.”. Poderia acrescentar uma variação assim desenhada “errar é humano…não reconhecer os erros é política”. A política, como qualquer actividade humana, está sujeita ao erro. Quem desenvolve esta intervenção cívica, arrisca muitas vezes, no fio da navalha, ao reagir instantaneamente a dinâmicas em curso. Ou a pronunciar-se sem ter ainda todos os elementos disponíveis.

Creio que um dos grandes desafios que uma nova geração de políticos e uma nova forma de fazer política enfrentam é estar disponível para assumir – em tempo útil – os erros cometidos. E fazê-lo sem hesitação. Sem medo das consequências junto dos eleitores. Sem medo da fragilidade. Sem medo da verdade.

A política da coragem exige que não nos deixemos paralisar pelo medo de errar. Nem pelo medo de reconhecer os erros.


Rui Marques

Presidente do MEP

PS: Agradeço ao Pedro Mexia por, no programa “Governo Sombra”, da TSF, ter iluminado este erro. Foi uma crítica merecida.”

* Esta é a frase lema de uma das distintas escolas de Economia do país. Herdou-a de Bento Jesus Caraça, em boa hora.

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