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Como se perde o controlo por excesso de controleiros

Qualquer indivíduo que traz na memória a luta do idos anos 90 contra o autoritarismo cavaquista, contra a prepotência de Dias Loureiro, olha para o avolumar das provas de intimidação política com subsequente higienização partidária e fica mal do estômago, do intestino delgado e do grosso, no mínimo. 

Veja-se no Zero de Conduta (via Bloguítica) o resumo da situação até ao momento.

Se a história for tão ruim como parece, qualquer socialista ou simpatizante com a história e marca identitária que o PS se tem arrogado oferecer à nossa democracia, se cobrirá desejavelmente de indisfarçada vergonha. Vergonha e sentido das regras democráticas no exercício do poder é algo que alguns membros deste Governo esqueceram ou que afinal se vem provar nunca terem tido. 

Tudo isto é mau demais para estar a acontecer de forma tão evidente e disseminada! Infelizmente os sinais não estão apenas nas notícias que chegam aos jornais. Infelizmente, o Tomas Vasques está coberto de razão no diagnóstico disfarçado de retórica:

" (…) A directora não colocou o cartaz, apenas não o mandou retirar, nem deu conhecimento à hierarquia, segundo um assessor de imprensa da Administração Regional de Saúde do Norte. Desconheço o conteúdo do cartaz. Mas, provavelmente, não é mais que uma daquelas piadas brejeiramente portuguesa a merecer uma boa gargalhada de qualquer democrata. Mesmo do próprio visado, naturalmente. Exonerar a directora do Centro de Saúde porque não fez de delatora e não «investigou» quem colocou o cartaz, como sugere o referido assessor de imprensa, é um caminho perigoso. Aqui, em Portugal, como em qualquer país democrático. Cabe perguntar: estamos perante um caso de «quebra do dever de lealdade» de um funcionário ou estamos a entrar numa clima de intimidação que irá, certamente, acabar mal?"

Infelizmente, tudo isto começa a ser demais para me conseguir rever no governo que temos. Obviamente que se não se arrepiar caminho já e de forma firme e inequívoca, este governo e o Partido que o suporta merecerão toda a penalização democrática que os portugueses lhe puderem dar. Tornar edificante o sequestro sucessivo da opinião alheia por via da delação e punição administrativa com concomitante purificação por via do recrutamento de iniciados, não se admite como prática aceitável e praticada com desplante, a céu aberto, a ninguém.

Estes exemplos sucessivos não podem enformar o normativo porque se deve reger um funcionário da administração pública. O lema não pode ser o de ter em cada administrador um delator e um polícia político. Há questões de princípio que justificam a dramatização e que anulam milhares de preces e boas medidas de qualquer governo. Repito, esta é uma delas.

Notem que ninguém empurrou o PS e o Governo para esta situação, mas notem também que este é um daqueles momentos de clarificação. É um daqueles momentos em que pessoalmente terei particular interesse em ouvir os comentários e opiniões políticas de dentro e fora do PS. Se alguém quer livrar a face ou se o partido e o governo quiserem recuperar algum respeito, esta é a hora de falarem. A pulsão para a limitação de danos não pode seguir o caminho da negação das evidências e o discurso redondo da guerrilha política. Pessoalmente estou-me a lixar para o que anda a dizer a oposição acerca de mais este caso. Eu quero é saber o que diz este governo e o que fazem os políticos decentes que há no PS.

Os que agora se calarem não terão qualquer autoridade para criticar o doutor Marques Mendes ou outro por ele quando no seu novel governo tentarem aplicar a lei de talião e estarão a contribuir para que nunca nos vejamos livres deste duradouro ciclo vicioso!

9 replies on “Como se perde o controlo por excesso de controleiros”

O médico que colocou no Centro de Saúde de Vieira do Minho o texto que levou à exoneração da directora, enviou à Administração Regional de Saúde-Norte (ARS-Norte) uma carta onde assume as responsabilidades pela elaboração do documento.

O clínico, Salgado Almeida, é vereador da CDU na câmara de Guimarães e médico em Vieira do Minho.

Segundo fonte do centro de saúde, num domingo em que estava de urgência, Salgado Almeida recortou uma notícia de um jornal com declarações do ministro da Saúde, Correia de Campos, juntou-lhe uma frase e afixou-a na parede do centro. A notícia fotocopiada incluía uma declaração de Correia de Campos em que o ministro afirmava nunca ter entrado num Serviço de Atendimento Permanente (SAP), tendo Salgado Almeida escrito na folha: “Façam como o ministro, não venham ao SAP”. Logo nesse dia, segundo fonte do Centro de Saúde de Vieira do Minho, um utente escreveu uma reclamação no Livro Amarelo criticando a exposição pública da fotocópia.

Quando se apercebeu das dimensões da situação, Salgado Almeida escreveu e assinou um documento onde assumia ter colocado na parede uma cópia de uma entrevista dada pelo ministro da Saúde e onde escreveu também alguns comentários às declarações de Correia de Campos. A declaração foi enviada para a Sub-Região de Saúde de Braga e depois para a Administração Regional de Saúde-Norte, disse à Lusa a mesma fonte.

Contudo, a confissão do clínico não evitou a exoneração da directora do Centro de Saúde, Maria Celeste Cardoso, que foi substituída no posto pelo médico Ricardo Armada.

Apesar da Comissão de Serviço terminar a 9 de Março deste ano, logo em Janeiro a directora deixou de exercer funções.

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1297999

Pois é, mas, se o PSD eleger Rui Rio, como se fala, e tiver a sorte (o que não acredito) de ganhar as próximas eleições, não me parece que o panorama melhore nesse aspecto, porque Rui Rio, esse sim, é um verdadeiro ditador.

[…] O seu nome fica associado a mais uma polémica DRENagem do governo de Sócrates, que volta a sanear um funcionário público que não aceita ser delator do governo, sendo substituída no cargo por um elemento da cor partidária dominante. A associação ao malfadado slogan “job for the boys” desta nomeação amplia o escândalo, independentemente das aptidões de Ricardo Armada para o desempenho do cargo. Para saber mais, também aqui. […]

É uma estória rocambolesca. A confirmarem-se esses detalhes apresentados no DN a situação é mais grave do que parecia ao princípio. «De acordo com a mesma fonte, “a afixação ocorreu durante um fim-de-semana de Outubro ou Novembro em que a directora não estava no centro”. Nesse domingo, “um membro do PS local apareceu e fotografou o cartaz”. Depois, acrescentou, “pediu o Livro Amarelo para fazer queixa”, e “enviou as fotos para a ARS/Norte”.»

O kit “Nomeação na Hora” já referenciava o telemóvel como imprescindível e passou agora a incluir também a máquina fotográfica [momento PUBlicidade: boneco no Fliscorno 🙂 ].

Quando se adivinha um futuro próximo onde, ao conversarmos numa roda de amigos, iremos ouvir (baixinho) “CUIDADO, ESSE É DO PS!”, auguram-se excelentes prespectivas para a “Revista à Portuguesa” – a melhor maneira de dizer as verdades sem riscos de processos levantados por políticos com “excesso de fair-play”!

Subscrição integral de “Há questões de princípio que justificam a dramatização”. (sem subscrição, mas nem por isso aliviado, da dita, e que bom que seja assim dita, vergonha).
Só me vou lembrando das célebres eleições, não gerais, mas para secretário-geral. Do seu desfecho vitorioso, da vitória esmagadora
E vou lembrando-me dos princípios. Assim como daquele outro – tão singelo – elemento, que é a avaliação e o juízo, sem a profundidade dos quais aqueles outros não tinem. E no princípio, e nele não vejo, e não é desde hoje, o PS, vê-se o crescimento continuado da desigualdade social, que, aliás, já vinha do furacão barroso-lopes; o país da montra – onde me incluo, note-se – e o país que está debaixo do tapete.
Ironia das ironias é a auto-flagelação implícita no episódio: punir-se outro por nos criticar com aquilo que dissemos; isto é, por colocar-nos diante do espelho. E isto vindo de um ministro da “saúde”, transporta-nos para o âmbito dilacerante do tragicómico.
Mas o que mais me impressiona é que, salvo alguma lucidez soarina, o cartaz e a sua históra é que é o alarme, mas não o que lá se diz.

O ministro anda desesperado,já se percebeu que não tem competencia para gerir o SNS,fecha aqui,cobra taxa acolá,como disse uma vez numa intrevista tem que apanhar as migalhas todas.Pede conselhos a comissões técnicas,não fala com os autarcas,depois as populações manifestam-se,vai depois de tomar as medidas tentar remediar os estragos.Só pode ser desta atrapalhação toda que fez este bonito gesto.Este sr. mais a bendita ministra da educação e o patusco Mário Lino de tão impopulares estão a arastar para o fundo das sondagens o governo e tambem o primeiro ministro.O Socrates não os despediu por causa da Presidencia Europeia,temo que quando o fizer já não vá a tempo para as eleições de 2009

Não há remédio. Pedir a alguém do PS que intervenha só conduzirá a que abafem os futuros casos. O mal está lá dentro: quem ascende por fidelidade canina não concebe outra forma de ver o mundo.

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