A propósito do estranho caso da ofensa ao Primeiro-Ministro que deu em processo disciplinar de um professor (ex-deputado do PSD), tenho-me remetido ao silêncio.
Sendo a fonte primeira o jornal Público, tenho por regra ir fazendo assim: pôr os comentários em banho-maria. Há muito que os atropelos jornalísticos e enviesamentos políticos tomaram de assalto esse ex-jornal de referência nacional. Para começo de conversa gostava de conhecer mais detalhes. De substancial, para que o leitor possa formar uma opinião, sobra muito pouco. Os que são divulgados podem facilmente promover interpretações ligeiras e injustas; embarcar na absoluta credulidade é dar pretexto a que este tipo de meias-notícias se substitua às notícias inteiras, por sistema. No limite consigo imaginar uma situação em que a acção disciplinar se possa justificar. Será que se atingiu esse limite? A notícia pouco adianta.
Contudo, resta um problema incontornável e acima de tudo político. Um problema que não posso ignorar, até atendendo a preocupantes tiques que também vou vendo no meu bairro lisboeta. De mãos dadas andam perguntas como:
- Até onde pode ir a opinião de um servidor do Estado?
- Quem fiscaliza (se preocupa) e tem autoridade para lidar com o abuso do exercício de poder quando ele se confunde com favor político ou pressão?
Num contexto em que a oposição tem telhados de vidro e resvala, ao mínimo sopro de feição, para a demagogia da pior espécie (da última semana: o PIB é boa nova exclusivamente importada do exterior; o desemprego é culpa integral deste governo – Frasquilho dixit!);
num contexto onde os órgãos de informação estão largamente sob suspeitas cruzadas e manifestamente mal dotados (com raras excepções, entre as quais tenho incluído o Jornal de Negócios);
e num contexto onde há ainda pouca cultura democrática / sentido do dever público (onde os pais ainda dizem aos filhos para terem respeitinho e ficarem caladinhos que a vidinha está difícil), não cultivar a excelência e o respeito também ao nível da transparência e da tolerância é grave pecado que irá rebentar-nos na cara com custos num futuro próximo.
Retenha-se a velha moral:
Não faças ao outro o que não queres que te façam a ti. Mais cedo ou mais tarde provar-lhe-ás as calças.
*
" (…) Seja como for, acho que a directora da DREN se excedeu. Foi mais papista do que o papa e causou-lhe, a si [primeiro-ministro], um problema o de poder passar a haver despedimentos por "delito de opinião", o que é muito grave. O senhor dirá que não se trata de um despedimento mas, na pobre linguagem da pequena política, já se sabe que não basta "ser" – é também necessário "parecer". Ora, isto parece, exactamente, "delito de opinião". Argumentarão alguns que o comentário foi feito "nas horas de serviço" e "nas instalações da DREN"; teria sido assim tão grave que as paredes da DREN coraram de vergonha?
Sei que o senhor primeiro-ministro não concorda com este tipo de perseguições. Não deixe que isso aconteça no seu, e meu, país. De contrário, o senhor será responsável pelo reaparecimento de milhares de pequenos ditadores e papistas, um pouco por todo o lado. Eles detestam-no a si porque o senhor é de uma nova geração de políticos que nasceu para a política já em liberdade; mas aproveitarão a boleia que este caso pode dar-lhes para satisfazer a pequena tentação portuguesa da intolerância."
11 replies on “Não faças ao outro…”
Em relação a este caso falta saber muita coisa que deve constar do processo movido ao professor em causa,desde já o que disse?A quem disse?Quem é que estava presente,alunos,professores,país?.A lembrar um péssimo exemplo de um grupo de professores,no primeiro dia de aulas do ano lectivo que agora chega ao fim,que montou um protesto a vaiar o primeiro ministro e a ministra da educação,á porta da escola frente aos alunos e encarregados de educação.Não tenho nada contra os professores mas por vezes quando se queixão da falta de respeito dos alunos lembro-me do que se costuma dizer,quem não se dá ao respeito não espere ser respeitado
É evidente que esta história do prof. Charrua (que eu conheço bem) está muito mal contada. Ninguém poria um processo disciplinar a um funcionário (que está há 20 anos na DREN) só por causa de uma piada fosse com o PM ou outra entidade do Estado. Esse prof. tem um longo historial de complicações e o processo disciplinar não teve a ver com o que ele disse. O jornal Público claro que se aproveita de uma situação para mais um pouco de “jornalismo de sarjeta”. Além disso, o prof. Charrua não foi suspenso, pois ele estava em destacamento, sendo o seu real local de trabalho a Esc. Sec. Carolina MIchelis (para onde regressou). Eu já estive destacada e toda a gente sabe que os destacamentos podem cessar a qualquer momento unilateralmente, por qualquer das partes, sem precisar de justificação. Foi o que aconteceu. Eu sei que o prof. Charrua estava a criar graves problemas de funcionamento na DREN, há já uns tempos. A piada sobre o PM é a história que esse prof. conta. E também sei que não foi piada nenhuma mas sim um insulto puro e duro, que a DREN não poderia admitir, nas circunstâncias em que foi proferido.
É evidente que esta história do prof. Charrua (que eu conheço bem) está muito mal contada. Ninguém poria um processo disciplinar a um funcionário (que está há 20 anos na DREN) só por causa de uma piada fosse com o PM ou outra entidade do Estado. Esse prof. tem um longo historial de complicações e o processo disciplinar não teve a ver com o que ele disse. O jornal Público claro que se aproveita de uma situação para mais um pouco de “jornalismo de sarjeta”. Além disso, o prof. Charrua não foi suspenso, pois ele estava em destacamento, sendo o seu real local de trabalho a Esc. Sec. Carolina MIchaelis (para onde regressou). Eu já estive destacada e toda a gente sabe que os destacamentos podem cessar a qualquer momento unilateralmente, por qualquer das partes, sem precisar de justificação. Foi o que aconteceu. Eu sei que o prof. Charrua estava a criar graves problemas de funcionamento na DREN, há já uns tempos. A piada sobre o PM é a história que esse prof. conta. E também sei que não foi piada nenhuma mas sim um insulto puro e duro, que a DREN não poderia admitir, nas circunstâncias em que foi proferido.
É a primeira vez que por aqui “passo”. Os comentários indiciam boa frequência. O Sr A. Silva, pela qualidade da ortografia, deve ter frequentado a UnI ou outra da mesma liga.
[…] *No meio de trânsito encontram-se por vezes pessoas agastadas, à procura de pretexto para descarregarem. Por isso têm condução agressiva, buzinam. Enfim, lançam-nos o isco para nos travarmos de razãos e como é sabido é muito difícil vencer quem está premeditadamente determinado a arranjar sarilhos, mas de vez em quando… De vez em quando convem fazer exactamente o que menos se espera. Soprar um beijo pode ter um efeito mais demolidor do que espetar o dedo. Isso e ter sempre presente o tal "Não faças ao outro o que não queres que te façam a ti." […]
O “coitado” professor de inglês Fernando Charrua (há 20 anos na DREN!!) jocoso, prazenteiro, ingénuo piadista, exercia afinal o cargo de Director de Serviços de Recursos Humanos da DREN e tinha já exercido funções de deputado “independente” pelo PSD.
O “coitado” do professor piadista não era, como diz o comentário anterior Director de Serviços masw apenasw funcionário desses Serviços. Naõ é um “piadista” mas sim um grosseiro. O insulto proferido, para que conste, entre outros insultos foi: “Somos um país de bananas com um PM que é um filho da puta!” Se a oposição e o jornal Público consideram que faz parte da “liberdade de expressão” chamar “filho da Puta”, seja ao PM ou a outra pessoa qualquer, então estamos conversados…
Sr.Luciano,nem todos os portugueses podem tirar um curso superior,seja na UNI ou outra qualquer.Não frequentei nenhuma,e portanto é natural que a ortografia de quem tem só a quarta classe antiga seja diferente dos catedráticos que o Sr.parece ser.Contudo o seu voto é igual ao meu.Sem saber exactamente o que o dito professor disse,não vou encarneirar como estão a fazer os “grandes defensores da liberdade de expressão”,aos quais pelo seu comentário me parece que o Sr.pertence
Mas afinal o que é que o homem disse?????
Chiça, que estou já tão farta destas não-notícias.
(se chamou fdp ao pm, fica sem moral para suspender alunos que o chamem a ele)
(e quem são estas pessoas que se dão ao trabalho de se insultar umas às outras num thread de comentários de um blog??? São as tais da condução agressiva??)
Não há um código de conduta do funcionário público? Assim do género das empresas americanas e as suas policies internas? 🙂 Se calhar é o que falta para se definir a fronteira daquilo que é a opinião de cidadania do que é falta de lealdade para com o empregador – o que me lembra logo os profissionais civil servants ingleses à la Sir Humphrey.
Ora bem, eu também conheço o prof Charrua e sei que o homem é complicadote. Mas então, a sindicalista Margarida podia ter deixado passar a coisa e, jo fim do ano lectivo, recambiava-o para a sua escola e substituia-o por um prof socialista, que há por aí muitos que não gostam de dar aulas. Ponto final. Ele estava destacado, regressava à base. Agora essa do processo disciplinar é que custa a entender. Então que mal tem dizer que a licenciatura do Sócrates é uma vigarice? Toda a gente sabe isso, incluindo ele próprio. Insultar o homem também não tem grande problema. Eu, por exemplo, sinto-me insultado diariamente por ele e pelos lacaios dele e nem por isso lhe ponho processos disciplinares…
Oh Clara Martins !!! Por amor de Deus (com maiúscula e tudo). Então neste país chamar “filho da puta” a um gajo qualquer é crime? Se fosse crime, nem os tribunais do mundo inteiro todos juntos conseguiriam dar despacho a tantos processos. Então aqui pelo Norte… nem imagina. Quando atravesso os corredores da minha fábrica, ouço mais vezes essa expressão do que “bons dias” quando entro de manhã. Quem não teve já vontade de chamar esse nome ao primeiro-ministro? É evidente que a mãe dele não teve culpa nenhuma, mas que o tipo é uma grandessíssimo filho da puta, não tenha dúvidas.