Parece-me evidente que o actual executivo camarário de Lisboa expirou o seu prazo de validade. E sinceramente mais do que esmiuçar os quês e porquês (questões importantes que darão pano para mangas no futuro próximo) interessa não esquecer uma prioridade fundamental: preparar de imediato uma alternativa política.
Jorge Coelho, o sempre eterno manobrador (que não convém subestimar) já traçou o caminho: nada de precipitações no PS pois uma coligação deve ser sempre tentada e, como tal, avançar com nomes publicamente sem antes estabelecer o devido acordo pode ser a melhor forma de queimar a coligação ou de queimar esses nomes.
Não sei se o melhor caminho será o de tentar uma coligação. E quando digo "não sei" quero dizer exactamente isso: não sei, em absoluto. Dependerá das pessoas envolvidas de ambos os lados, suponho.
Sei é que no momento actual a câmara de Lisboa deve ser a câmara mais dificil de gerir no País. E julgo saber também que a sensação mais comum entre os lisboetas é a de haver demasiado lastro do passado, nem sempre invejável, que entorpece a acção política. Rabos de palha, uma dívida monstruosa, omissões mútuas de pecadilhos alheios, por vezes partilhados… Um misto de asneiras políticas de âmbito executivo com um progressivo acumular de vícios promovidos, quer pela falta de alternância política, quer pela própria forma de organização do poder interno no seio de cada partido. Felizmente, pelo caminho, a coligação de esquerda conseguiu prestar bons serviços em Lisboa, suficientes para ter justificado sucessivos mandatos até à vitória humilhante de Santana Lopes.
Julgo haver no ar – e não particularizo simpatizantes de nenhum partido – um clamor por gente nova, alguém que consiga começar um projecto sem mofo nem bafio, aberto para os problemas quotidianos de uma grande cidade numa vasta área metropolitana, alguém disponível para as soluções com provas dadas noutras paragens. Alguém que tenha já o "peso político" e a experiência indispensáveis para enfrentar o problema do saneamento da dívida camarária, dando garantias de não comprometer as responsabilidades públicas essenciais do monicípio. E, fundamentalmente, alguém que apresente um projecto que centre a acção política na cidade.
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Precisa-se (M/F):
Indivíduo com traquejo político, pragmatismo na execução, capacidade de aprendizagem, consciência social acentuada, registo criminal imaculado ou devidamente e antecipadamente publicitado, sem tiques de prima-donísmo e com provas dadas quanto à capacidade de negociação, disponível para gerir com empenho o município de uma das mais desafiantes capitais da União Europeia.
Oferece-se uma boa perspectiva de emancipação política pública a título definitivo com boas possíbilidades de ascender a líder partidário, primeiro-ministro ou mesmo mais alto magistrado da Nação. Remuneração claramente acima da média nacional, com planos suplementares interessantes.
Não vai ser tarefa fácil, mas se aparecer alguém com a maioria dos requisitos cumpridos no currículo…
Quanto ao PS, a questão que se coloca é saber que opções é que quer ter na disputa política que se avizinha. A tentação de recuperar o passado, incluindo pessoas e coligação, já vai sendo ventilada, contudo, pelo que aqui disse preferiria que se apostasse de facto em uma equipa base onde predominasse gente nova no executivo da cidade. Gente capaz de negociar com todas as cartas uma eventual coligação; algo só possível se a não formação da própria coligação for considerada como uma hipótese real durante as negociações…
Não precisamos de saber o que se está a passar internamente (pelo mesno para já) mas espero que se esteja a passar algo desde já; que haja decisões em vias de serem tomadas e que haja projectos em elaboração. É o tempo de fazer os trabalhos de casa e, porque não, admitir que está na hora de se tentar um trabalho Seguro e profissional, com o apoio genuíno do actual líder do partido, para variar. Internamente está a chegar a hora de os interessados se chegarem à frente (ou pelo menos deveria ser assim se a política partidária fosse o que deveria ser). Depois destas tristes e sucessivas más experiências no executivo da câmara, eu votava para ver.