A acreditar no quase sempre duvidoso jornal Público, parece que o governo descobriu que só vale a pena haver comboios directos (via Elba Every Where/ Portugal dos Pequeninos) entre Lisboa e o Porto, definitivamente. Para esta contabilidade terão sido considerados apenas os custos directos de um operador e o objectivo estratégico colateral – porque nada tem a ver com o resto do país além litoral – do TGV. Acresce ainda que a notícia não é clara: acabarão os intercidades da Beira Alta e Beira Baixa e serão substituidos por automotoras a diesel (a partir de Coimbra e Entroncamento, respectivamente) um ano depois de se ter electrificado boa parte da linha da Beira Baixa? (irei investigar)
Eis agora o contributo para o debate nuclear:
O comboio facilmente pode ser alimentado a energia produzida em centrais nucleares (eólicas, de biomassa, whatever). A automóvel particular ou o autocarro que restaram como únicas alternativas minimamente aceitáveis para me deslocar para, por exemplo, Castelo Branco, Fundão, Covilhã ou Guarda (como já acontece com Viseu, Évora, ou Bragança) têm como combustíveis exclusivos os hidrocarbonetos. Para ajudar à festa tudo isto tem como cenário de fundo latente o privilégio do TGV. Lá se vai o último arremedo de alternativa às auto-estradas da região que ainda poderiamos tentar defender existir. Menos um argumento portanto para acabar com a SCUT da A23, por exemplo.
E agora um bónus: até que ponto a evolução recente e perspectivada do preço do petróleo altera de forma relevante os parâmetros que levaram à tomada de decisão sobre o TGV e sobre a OTA? Nomeadamente no que se refere a toda a estrutura de transportes que servirão o Aeroporto e cada uma das estações do TGV? E ainda, no que se refere à relevancia futura de toda a infraestrutura ferroviária não-tgv que existe em abandono progressivo pelo país?
Parece-me que uma nova (velha) prioridade está a subir na cadeia hierárquica a cada dolar a mais que custa um litro de petróleo.