Esta história dos cartunes, ou melhor, as reacções a eles, serviram para demonstrar mais uma vez como as divisões esquerda e direita estão em perigo, ou pelo menos são secundárias face a outras "classificações" ou "tipos".

Tanto à esquerda como à direita há muita malta que só sabe dialogar com mentecaptos imaginários, indivíduos extremistas que têm de personificar o perfeito oposto de quem os critica. Constata-se, no entanto, que é muito mais provável um tipo ao longo da sua vida equilibrar os momentos em que concorda e discorda de um outro indivíduo específico (ou ideologia) do que conseguir alinhar sistematicamente pelo confronto ou pela concordância absoluta com esse mesmo indivíduo (ou ideologia)*.

O que me espanta é que haja tanta gente crescidinha (deste "lado" do mundo) que não consegue encarar esta constatação e insista na sua negação. Como é evidente, ao fazerem-no tornam muito mais difícil qualquer discussão e evolução do pensamento sobre qualquer assunto, pois passam os dias a ter sempre o mesmíssimo debate. Em suma, são uns chatos e, pior do que isso, uns grandessíssimos empatas. Um traço comum que partilham com os extremistas. Não há alguém que lhes faça um cartoon, perdão, cartune?

O mundo ainda há-de ser dos espíritos livres (ou pelo menos dos "um pouco livres")!

* Consta que na Assembleia da República há muitas figuras que materializam uma forte excepção a este princípio.

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