Há argumentos que leio da pena de jornalistas da nossa praça e que são vizinhos aqui da blogoesfera que me deixam perplexo. Fico perplexo porque sei que são grandes consumidores de comunicação social, contactam com muito mais informação e publicações de que eu e do que a generalidade dos vizinhos cá da esfera. Como é que é possível virem com argumentos relativos ao contexto perante este caso muito concreto?
Que tipo de respeito têm por quem demonstra o seu desagrado de forma não violenta? Que tipo de respeito têm pelos cristãos e pelos judeus que recorrem ao tribunais quando se sentem caluniados, ofendidos, humilhados pelo que lêem na imprensa? Onde estavam quando dezenas, centenas, milhares de cartoons satíricos, ao longo de décadas, representaram as contradições do mundo muçulmano? Onde estavam quando esses cartoon dados à estampa, enxovalharam quem se quiz sentir enxuvalhado, mas que o fez sem o estrilho, sem as ameaças, sem a violência dos extremistas?
O que é novo nestes cartoons da Dinamarca é a dramatização provocada pelos extremistas islâmicos e o efeito global que talvez até tenha precisado de alguns detalhes mais apimentados para exacerbar mais algumas mentes.
Pela última vez faço A pergunta: deveriamos enquanto sociedade proibir a publicação daquele tipo de cartoons? Deveriamos punir quem o fez ou passe a fazer a partir de hoje?
Se alguém se dignasse a responder a esta pergunta central, talvez depois encontrassemos uma plataforma de entendimento quanto ao resto da discussão. Tanto quanto o meu entendimento consegue perceber esta pergunta tem de ter resposta clara independentemente do contexto, isto porque a lei não pode avaliar casuísticamente o contexto. Talvez depois eu já pudesse aqui vir louvar sem reservas mentais a iniciativa de Zapatero e do chefe do executivo Turco ou entrar na discussão de como definir o bom senso ou de como o condicionar sem recorrer a imperativos.
Até lá vejo que anda muita gente a fugir a esta incómoda pergunta resguardando-se em terrenos bem mais populares, bem mais fáceis. Cobardia, pura cobardia, daquela espécie que me faz temer o pior para o nosso futuro.