Sem ser original – recordo por exemplo esta carta aberta a Jorge Coelho, entre outros textos mais generalistas e mais recentes que têm surgido a espaços na blogoesfera – este artigo de Pacheco Pereira é uma síntese cristalina, sem gorduras, talvez mais desapaixonada do que é habitual quando se aborda este tema, da lenta dissolução dos partidos, aquém e além fronteiras lusas. Tem ainda um outro mérito: o de ter chegado à imprensa.

O pretexto próximo foram as presidenciais mas, de facto, os sinais têm estado aí para quem os queira ler. Não sei que rumo levará esta lenta dissolução, mas pela minha parte prefiro uma atitude liberal perante aquilo que acho ser um problema grave. Para começar, acabe-se também com o monopólio dos partidos no acesso ao poder legislativo. Aliás, o exemplo das autarquias, (apesar dos Isaltinos e das Felgueiras, produtos simbólicos e resistentes da nossa política mas teoricamente impossíveis de criar e prosperar no actual sistema de responsabilização partidária), parece-me que se está a revelar positivo para a governação local no país, precisamente por oferecer uma alternativa de "combate" a velhos hábitos e redes de poder instalados e até de denúncia de práticas ilegais, permitindo, em alguns casos, mobilizar pessoas interessadas em fazer algo e até aqui afastadas de aceder ao poder.

Prefiro tentar encontrar um novo modelo de organização/participação política libertando-nos de algumas das actuais regras do jogo. Prosseguir pelo caminho actual parece-me ter como único destino possível a decadência dos partidos e da confiança no sistema representativo. Levantando o monopólio, quem sabe se não teremos mesmo algum tipo de modernização e maior democratização da participação cívica/política?

JPP promete continuar a abordar o tema, provavelmente, no artigo do Público da semana que vem. Ainda bem, haja mais como ele. Já agora, caro JPP, os meus cumprimentos ao seu colega Jorge Coelho…

Só uma última nota para os media: estarei errado quando julgo perceber que há entre uma boa parte da comunidade jornalística deste país uma aversão a tudo o que mexa com sistema vigente? Como perceber que se ignore esta lenta dissolução, ou, na melhor das hipóteses, não se ignorando, se continue a dar sempre as mesmas cartas, a analisar as mesmas jogadas e a olhar para os mesmo actores que desempenham sempre o mesmo papel com o mesmo discurso?

Será que é a sociedade que está acomodada ou será que a imagem que nos chega dela e de tudo o que não encaixa na novela política tradiconal, com os seus espectadores que se julgam cativos, é sistematicamente coberto por um véu de jocosidade jornalística?

Quero apenas dizer que o problema e a solução não passam apenas por alterações eventuais às leis eleitorais que venham a permitir teoricamente o acesso à representação democrática a outros que não os partidos tradicionais. Os media, como os temos hoje, são um potencial factor de bloqueio à evolução da democracia. Potencial, na eventualidade de a lei permitir novidades.

A prová-lo está, por exemplo, a quase total não notícia que foram os mais de 40 municípios onde houve listas independentes, antes, durante e depois da campanha eleitoral. Muito poucas páginas foram dedicadas a esse fenómeno emergente… Com as excepções que todos bem recordamos, encaradas num outro contexto: o dos suspeitos e actores do costume.

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