E vai acima, bem acima:
Finalmente, vi José Sócrates (que sabe de cor o seu Gato Fedorento, uma presença cada vez mais habitual no Parlamento) a defender pelo lado certo, o orçamento, particularmente as alterações à política fiscal que afectarão uma pequena fatia dos reformados com mais altos rendimentos: o lado da defesa da mais elementar justiça social. Uma aproximação à lógica da ‘Tributação igual, para rendimento igual’.
A sua intervenção hoje no Parlamento, em resposta a Marques Mendes, no início da discussão do Orçamento de 2006, foi absolutamente demolidora. O PSD perdeu uma excelente oportunidade para marcar pontos valiosos a médio prazo ao não ter resistido ao teatrinho de virgem arrependida na dança do ‘talvez aprove, afinal desaprovo’ o orçamento. Tudo muito visto nos manuais de campanha. A crítica ao que não está bem no orçamento seria mil vezes mais eficaz e proveitosa para o país se tivesse havido coragem para fazer história ao não se rejeitar na generalidade o orçamento pré-garantido pela maioria absoluta no parlamento. E os argumentos de Sócrates contra Marques Mendes teriam sido esvasiados de sentido. Assim não sendo, foi bem lembrada a citação de um conselho de ministro de Durão Barroso invocada por José Sócrates: quantas linhas teria o TGV na versão subscrita pelo então ministro Marques Mendes há um ano e cinco meses?
E vai abaixo:
Dito isto desiludam-se os spin doctors governamentais, também por aqui continuamos à espera de estudo sobre a Ota. A mancha alastra e não será esquecida. Em suma, o governo esbanjou neste orçamento talvez a última oportunidade para ter do seu lado uma parte do eleitorado que genuinamente estava disposta a julgar a justeza da decisão agora apresentada como facto consumado. Venha o estudo que vier terá de conviver sempre com a suspeita do "quanto quer que dê, senhor Ministro?".
P.S.: Recomenda-se a leitura de "O PSD e o OE 2006:os políticos são todos iguais?" na 4ª República (por Pinho Cardão)