Quem passou por aqui ontem a esta hora, facilmente percebe que estou em perfeita sintonia com o que escreveu David Justino. Mais que não fosse por eu ter votado no PS (e não supondo que tenha acontecido tal coisa com David Justino) as mesmas palavras acabam ter muito maior valor se escritas no 4ª Republica. Fica o meu modesto aplauso e um desejo: o de que as suas palavras não sejam imediatamente catalogadas nalgum processo de guerrilha interno. É que o PSD e a actual direcção, ainda que tendo perdido a oportunidade deste orçamento, voltarão a ser chamados a qualificar que tipo de oposição pretendem ser. E acreditem ou não, a alternativa começa a fazer-se no dia a seguir às eleições.

É preciso ver até que é bem possível que Marques Mendes tenha uma oportunidade rara na democracia portuguesa: ter quatro anos para preparar devidamente uma alternativa; um luxo que não foi oferecido a nenhum dos últimos três primeiro ministro dai resultando grave dano para o país.

Fica um excerto:

" (…) 4. O PSD tem vindo a demonstrar uma preocupação louvável de “credibilização da política” e de recuperação da confiança do eleitorado perdido nas últimas legislativas. Esse processo de credibilização só é sustentável se forem sustentáveis as suas opções políticas. É fácil cortar a cabeça a dois ou três autarcas a contas com a justiça, para recolher o aplauso da opinião pública. Mais difícil é manter uma estratégia coerente de uma oposição responsável, liberta do espartilho do curto prazo e que estruture uma futura alternativa de governo. A política credibiliza-se por “melhor política”.

5. O PSD teve uma oportunidade única de dar um sinal de responsabilidade subscrevendo o esforço de saneamento financeiro do Estado. Com esse sinal adquiria uma autoridade acrescida para pedir contas ao Governo sobre a execução do OE2006. Não o fazendo o PSD está a imitar a posição irresponsável do PS quando foi oposição ao Governo de Durão Barroso.

6. O PSD poderá invocar sempre o princípio de que a oposição existe para fazer oposição e que a actual maioria nem precisa da sua abstenção para viabilizar o Orçamento. Precisamente por isso, o PSD estava liberto para poder votar em consciência e fazer valer as suas convicções, não o seu oportunismo. A situação do país exige esses sinais e o PSD deveria saber interpretá-la.

Também sei que há outras condicionantes da decisão tomada, nomeadamente a particular composição do grupo parlamentar. Mas é nestas condições que se afirmam os líderes e que vencem as convicções."

David Justino in 4ª Republica 

 

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