A propósito d’O Erro de Sócrates, uma especulação alternativa:

Com o pior que há no PS, algo combalido e/ou satisfeitinho com as autárquicas e seus novos jobs, e com a sensação crescente de que as presidenciais estão decididas, é este o momento para o governo mostrar se tem um segundo fôlego e concentrar-se na governação.

Pelo caminho, a campanha das presidenciais poderá até servir para "amarrar o futuro presidente ao governo"…



Parece-me que a principal ameaça para o governo vem do risco de singrar a velha imagem de que são sempre os mesmos a pagar a crise. Se o grosso da classe média e baixa se identificar com a contestação social que se avizinha, a coisa pode ficar preta, para o governo e para o país. Parar de mexer no aparelho do Estado não é uma opção e não creio que o próximo orçamento se limite a cosmética. Aí sim, o novo PR poderia, a curto prazo (início de 2007) intervir.

Imagina-se Cavaco a colocar engulhos ao governo por este estar a enfrentar contestação social devido às reformas homogenizadores que tem levado a cargo e que poderá reforçar? Tinha piada…

Envolver o PSD em algumas das discussões é fundamental, por razões de interesse nacional e por táctica política: poderá funcionar como seguro de vida (haja ou não acordo), se o processo for conduzido com astúcia, explorando o esforço de sentido de estado e de responsabilidade política que tem sido a linha de rumo/imagem de propaganda de Marques Mendes. Se assim fosse, no final da legislatura até podiamos ter um julgamento justo e sereno, para variar.

Alguma originalidade nas acções do governo a nível orçamental/reestruturação da administração e os fortes preconceitos já hoje associados à imagem do PM poderão ser também explorados para mitigar danos de imagem (como fez algumas vezes Cavaco PM), utilizando alguns artifícios de propaganda sempre eficazes no imediato pos-fim-de-estado-de-graça ; muito curiosa aquela situação, ontem, na inauguração da A25 com o PM a ir (muito afavelmente) dar satisfações a quem clamava pelas suas indemnizações aos terrenos expropriados… Afinal Sócrates é amável e preocupado…

Uma ligeira melhoria no comportamento político fruto de uma maior maturidade na governação de alguma pontual remodelação, condimentado com coragem política em mexer em mais áreas "sensíveis", poderão acabar por retirar impacto na opinião pública aos movimentos de repúdio às reformas e a uma oposição responsável, simplificando, também, a tarefa de um PR igualmente responsável e temente aos monstros.

Em suma: Dividirá para reinar o tempo suficiente para obter resultados, ou não conseguirá mais, a prazo, do que um coro hostil demolidor pondo-se a jeito para reforçar o regime presidencialista? Se esta legislatura rodar em volta desta dialéctica não estaremos mal de todo.

Tudo ainda depende do estofo do Governo e do que conseguirá tirar da cartola. Espero que eles acreditem nisso.

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