A Cristina M. Fernandes publicou há poucas horas na Janela e eu indiscretamente agarrei no último parágrafo deste texto de Luis Buñuel (O Último Suspiro) e deixo-o aqui imaginando-me já na fila esperando que ainda haja jornais também para mim, nem que seja de dez em dez anos.
“(…)Só tenho pena de uma coisa: não saber o que se vai passar. Abandonar o mundo em pleno movimento, sair no meio do folhetim. Julgo que esta curiosidade pelo após-morte não existia antigamente, ou existia menos, num mundo que mudava pouco ou nada. E uma confissão: apesar da minha raiva à informação, gostava de me poder levantar de entre os mortos, de dez em dez anos, ir até a um quiosque e comprar alguns jornais. Não pedia mais nada. De jornais debaixo do braço, pálido, roçando-me contra as paredes, voltava para o cemitério e lia os desastres que iam pelo mundo antes de voltar a adormecer, satisfeito, no abrigo reconfortante da tumba.»