Passo brevemente aqui por casa para acompanhar a discussão que se mantém acesa e muito ilustrativa da complexidade e emotividade gerada pelo problema dos transportes/poluição/ ordenamento do território etc e aproveito para dar algum troco nas respectivas caixas de comentários.

Houve dois textos que geraram alguma polémica e confronto com o que escrevi.

Um deles foi este onde critiquei a desproporcionalidade entre a preocupação e mobilização gerada pelo consumo de tabaco face à poluição atmosférica gerada pelos sub-produtos da combustão de gasolina e gasóleo nos veículos particulares. Tentei defender que o segundo era bem mais grave que o primeiro e que essa convicção teria suporte nos próprios números de vítimas de doenças derivadas (que em muitos casos, desconfio, se confundem). Alguns leitores refutaram-me e por exemplo o Luís Lavoura avançou que:

O tabaco é um problema bastante mais grave do que a poluição automóvel. Um fumador numa sala põe muito mais em perigo a saúde de quem frequenta essa sala do que um condutor de um carro a gasóleo põe em perigo quem passa pela rua.
Eu diria que, de facto, o tabaco, em particular nos locais de trabalho, é o problema de saúde pública ligada à poluição do ar mais grave na nossa sociedade. Mais grave do que a poluição automóvel. Todos os estudos indicam este facto.

Aproveito então para reforçar o meu argumento de outra forma, dizendo que o tabaco é tão letal quanto a melhor metralhadora, matando muitos, sejam eles fumadores activos ou passivos, enquanto as emissões de carbono lançadas para a atmosfera pelos nossos popós entram na liga das armas de destruição em massa.

Será que esses estudos de que fala o Luís consideram os efeitos comparados da poluição do consumo dos cigarros versus a poluição da circulação automóvel sobre a bioesfera?
Alterações climáticas, suas consequências sobre os ecossistemas?…
Se há estudos credíveis que digam que, em termos comparativos, o tabaco numa sala fechada é pior que a concentração de sub-produtos da combustão da gasolina /gasóleo nos passeios de uma movimentada avenida de uma grande cidade, eu não tenho problemas em acreditar. Mas quando me referia à diferença de proporcionalidade no nível de preocupação que os dois problemas nos colocam pensava também, (e não o deixei explícito) nas consequências das emissões de CO2, CO etc, a um nível mais global.
Global mas cada vez mais perceptível também no nosso dia a dia. Tão perceptível que, desculpem a crueza, qualquer dia muitos de nós não terão sequer tempo de morrer de cancro promovido pelo tabaco, isto se se confirmarem as piores perspectivas dos cientistas (volto a sugerir o artigo da National Geographic que considero distante de ser um panfleto “ecologista”).
Em larga medida acho que é impossível contabilizar os efeitos das alterações climáticas mas de certezinha que as cheias anormais, as vagas de frio ou de calor nunca vistas ou mesmo as secas com duração e gravidade até agora desconhecidas em tantos locais do globo contribuem para um conjunto de tragédias humanas (e não só) que deveriam ser tidas em conta no deve e haver de uma comparação académica como a que propus.

E com esta perspectiva mantenho as prioridades que sugeri no texto inicial. Com uma visão suficientemente abrangente das causas e das consequências, tenho muitas dificuldades em aceitar que o tabaco seja um problema mais grave, não me parece que ponha em causa o nosso modelo civilizacional, e talvez mesmo a subsistência da espécie.
Já a contribuição dos automóveis particulares na emissão de gases promotores de efeitos de estufa me parece dar um contributo para uma tragédia de dimensões bem mais impressionantes.

O outro texto polémico fica para o próximo texto.

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