I
Pois é, também tenho o L, um passe social que permite circular livremente em Lisboa e que me há-de custar pouco mais de 22 € a partir do mês que vem. Um investimento mensal que me permite usar e abusar dos transportes públicos!
Ele é o 42, o 18, o 100, o 107, o 33, o 6, o 8, o 26, a linha amarela, a linha azul, a linha verde, a linha vermelha! Enfim, um fortote de passeata em animadas e nada solitárias excursões. Geralmente vou para o trabalho ou a fugir dele em direcção a casa, mas muitas vezes também são os transportes públicos que me patrocinam viagens lúdicas pela capital. Quando vou para o Teatro, ao Cinema… Jantar fora. Tudo o que fique em zona distante do serviço público é para mim área selvagem a explorar com cautela. Mais de três quilómetros a pé da saída de metro mais próxima é um potencial no-no a 99%. Certamente uma zona imprópria para cardiacos, onde um lugar de estacionamento é tão raro quanto água potável no Sahara… Uma aventura, uma situação que desperta o que de pior há em nós. Poupo-me!
Desde que moro em Lisboa, e para desgosto de algumas gasolineiras que agora brincam ao sobe e desce nos preços só para baralhar, o popó virou órfão, só serve quando ultrapasso as portas da capital.

Voltando à minha mais desbragada forma de espoliar o erário público: encontro doutores advogados que vão para o palácio de justiça, jovens escritores bem cotados na praça, trabalhadores cansados, toxicodependentes que vão matar saudades do Casal Ventoso (ainda!), carradas de reformados sem melhor que fazer – antes um passeio de metro ou de autocarro do que um hipocondriaco passeio até às urgências do Hospital de serviço -, estudantes, clientes habituais com desequilíbrios mentais (entre os quais não olvido sonoros saudosistas de Salazar, Salazar, Salazar!), senhores e senhoras de fino trato, turistas embevecidos de olgo arregalado, polícias, pais com filhos a caminho dos colégios, mães a dar de mamar ao petiz (só no metro!), amigalhaços a jogar às cartas, carradas de leitores do “Equador”, até mesmo alguns raros políticos e, ainda mais raros actores.
Do mais amável ao mais rústico, do mais bruto e mal educado ao mais asseado e agradável à vista. Da mais incomoda pulga social ao mais refinado perfume. Ora é um banho de realidade (é sempre!), ora é um pedaço de surpreendente glamour (já é preciso ter olhinhos para topar).
Tudo disponível por pouco mais de 22 € por mês num transporte público perto de si quase 24 horas por dia. É aproveitar que é capaz de se acabar…

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