Agora mais a sério:

Tenho lido e lendo tenho reparado que é muito raro gostar do estilo e mesmo de boa parte do conteúdo do que escreve Mark Kirkby no Pais Relativo, mas desta vez tenho que dizer que assinaria de bom grado este texto.

Como já aqui disse em tempos, entre os meus amigos, foram os eleitores do PSD os primeiros a sentirem-se defraudados com o que se passou no dia a seguir às eleições e nos meses imediatamente subsequentes com as sucessivas e espectaculares quebras de compromisso eleitorais e revelação das agendas ocultas. As diferentes expectativas deles e as minhas em boa parte explicaram a rapidez da sua desilusão… Numa perspectiva muito pessoal há pouco tempo esgotei toda a reserva intelectual que fui sustentando em relação a este governo. Foi neste entretanto que o elenco que o Mark hoje apresenta foi nascendo, ganhando mais foros de uma acção concertada do que da inicial solução de emergência com que as medidas foram sendo apresentadas. Bem vistas as coisas nada de muito surpreendente se passou, as condições eram propícias a mexidas profundas em várias áreas. O que não era claro – tenho o defeito/qualidade de renovar periodicamente a crença na boa fé das pessoas – eram as intenções que a médio prazo se reflectiriam nas medidas. Reformar o “paísâ€?, agilizar e requalificar a função pública, valorizar o papel do Estado pondo em pé de igualdade os desígnios Menor Estado e Melhor Estado? Claramente o objectivo Melhor Estado há muito que deixou de ser credível, fruto da obsessão do défice, da prioridade com preocupações em alargar a possibilidade de politização dos cargos intermédios da função pública, da incapacidade em compreender que a tarefa exigida é incompatível (ou incomportavelmente dispendiosa em termos sociais e veremos se eleitorais), com o desfasamento entre o chicote e a cenoura. Por exemplo, entre a redução de poder dos trabalhadores e a capacidade de integração de profissionais qualificados e motivados. O rumo começou a ser percebido com a lei da rolha nas contratações (e renovações de contratos a termo) na função pública e com a sua perenidade teórica volvidos que são quase dois anos de governo.

Ser democrata não é negar o direito ao exercício do poder recebido em eleições logo no dia seguinte às mesmas. Em boa parte, o trabalho subsequente, mais do que de defesa do programa eleitoral que saiu derrotado deverá passar pela denúncia dos desvios aos compromissos assumidos pelos que venceram, sempre que isso aconteça. O partido da oposição deverá avaliar se é razoável reconsiderar o programa que viu ser derrotado, deverá avaliar princípios, estimular o debate interno e externo por forma a encarar uma reforma do que defendia ou a sustentação do que não conseguiu fazer vingar nas eleições que perdeu. Saltar para uma crítica a toda a linha ao mais pequeno suspiro do Governo é tão contraproducente e disparatado quanto sustentar a irresponsabilização do poder executivo sobre problemas correntes ou decisões estratégicas quando são já volvidos dois anos de exercício em maioria absoluta.
Hoje não é tempo para recatos da oposição nem para descilpas de mau governante por parte do executivo. Estamos no tempo certo, a quase dois anos do início da legislatura e clarificado que está o que se pode esperar deste governo avaliando a sua acção até aqu, cabe à oposição ter feito o trabalho de casa e começar a preparar a alternativa, afincadamente.
Há que dizer que não como faz o Mark e complementá-lo com as contrapropostas (procurando ainda contributos ) mas exigindo desde já que se respeite o país. Entre o tempo de dizer já basta – que é este – e o tempo de mostrar o que aprendemos e propomos ao país deverão ir poucos instantes. Esperemos que o PS esteja à altura para tanto e os eleitores receptivos e esperançados na mudança.

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