1. Dizia-me a minha moça, há pouco, quando vinhamos pela N10, de Coina em direcção à A2 – Lisboa que estava um placard na beira da estrada (seria da prevenção rodoviária?) a informar que basta um instante de distracção para se perder a vida num instante…
O primeiro pensamento que tive foi de que se tratava de humor negro, imaginei-me a olhar para o placard e a morrer nesse mesmo instante, vítima de um despiste ou então de um choque frontal fruto do despiste de outrém que não evitei por estar a ler a mensagem de beira da estrada.
2. É tempo de sermos coerentes com o que exigimos de nós e de quem regula o que vemos à beira da estrada. A publicidade visível nas vias de circulação faz parte do grande problema que é conduzir um carro neste país. Talvez seja impossível imputar-lhe mortos mas podemos sempre admitir que ao prejudicar a concentração e o entendimento da sinalização de trânsito é bem provável que seja responsável por uma ou outra mortezinha por atropelamento, um ou outro choque frontal em contra-mão ou alguns comezinhos engarrafamentos devido a chapa batida…
3. Quantas vezes enquanto peão, em Lisboa, deixo de ver o trânsito que supostamente devo encarar de frente (está no código meus amigos) para ter que gramar com um mupi todo colorido que me esconde uma bela passadeira?
Ah! Mas como são cada vez mais giros estes mupis! Lembram-se daquela da capa da revista que mudava conforme o angulo de visão? Era só andar mais 10 metros com o carro e via-se o fenómeno por completo, bastava não tirar de lá os olhos, era só um instante…
Parece que somos quase pioneiros no mundo em novas modalidade de publicidade urbana…
4. Então e os filmes que podemos assistir ao volante da nossa viatura quando entramos em Lisboa, por exemplo, pelo viaduto Duarte Pacheco? Bem sei que é frequente haver filas e que uma distração nessas circunstâncias não passa de chapa ou plástico amolgado, quando muito um motard estropiado por um ligeiro e inadvertido chega-para-lá mas convenhamos, apreciar as pernas da moça da cerveja apresentadas num ecrãn com alguns metros não é espectáculo que possamos apreciar todo o dia. Eleva o moral logo pela manhã, mas é capaz de não ser uma informação auxiliar para a condução muito recomendável.
5. É fundamental estar concentrado na condução, não falar ao telemóvel, de preferência não falar com ninguém enquanto se conduz. É fundamental não reduzir os nossos níveis de concentração para potenciar a rapidez de resposta, não beber… É isto que nos dizem, e bem. É verdade! Acrescento agora esta chata perseguição que ajudo a fazer ao exagero, à excessiva densidade de anúncios urbanos, particularmente aqueles que têm como único alvo o condutor. Esses não deviam poder existir, nem sob o pretexto do semáforo! Há situações em Lisboa onde o campo de visão em cruzamentos é brutalmente reduzido pelos semi-pórticos publicitários, já repararam? Nunca tiveram de esticar o pescoço por causa do maldito mupi que impede ver o carro que se apresenta pela direita?
6. Deveria ser fundamental ter sinalização adequada: sintética, precisa e bem visível.
Já não nos bastam as incoerências da sinalização, ainda temos de conduzir num permanente onde está o wally em busca da sinalética que nos interessa?
Pela minha parte reconheço que já por várias vezes me desorientei no trânsito de uma cidade que desconheço por não ver na fracção de segundos que tenho disponível os sinais de trânsito que me interessam. Uma vez entrei em contra mão por não ter visto um sentido proibido que se escondia por detrás de um semi-pórtico que informava a temperatura, a hora e a marca ideal de comprimidos anti-gripais.
7. De quem é a responsabilidade de tanta poluição visual no interior das cidades? Das câmaras municipais é de certeza. Lisboa é um exemplo gritante do abuso nesta matéria. É a cidade mais poluída que conheço neste ponto muito particular. O que a câmara ganha ao vender o espaço compensa o que nós perdemos? Compensa os riscos que corremos? E que diabo, bem vistas as coisas até luto pela liberdade do meu olhar!