Não mudei.
Mudei de vida, de residência, de concelho, mudei muita coisa mas continuo a ir ao Pedro quando preciso de uma roupita. E eu até não sou de grandes laços sentimentais no que se refere a trocas comerciais. A loja do Pedro é uma excepção rara mas duradoura.
Hoje lá fui eu visitar a famelga mais chegada com o fito colateral de passar pela loja do Pedro.
******** INTERLÚDIO *************
O caminho fez de popó (estúpido!).
Inevitavelmente vi mais uma cena digna de um filme de acção protagonizada por um asno volante à entrada do IC19. Foi mais uma variante da banalíssima cena da diagonal imaginária que liga com prioridade a faixa de esquerda à saída mais próxima da via rápida. Enfim… cinco quilometro adiante (eram 13h) estávamos todos parados a mirar a silhueta da Serra de Sintra!
Tinoní para cá, tinoni para lá, tínhamos acidente. Houve tempo para limpar o pó do tablier, invejar as bolachas do vizinho do lado… Reparei que a construção da gigantesca urbanização que ameaça cercar o hospital Amadora-Sintra ligando em contínuo de betão Odivelas a Algés vai de vento em popa.
Um cheirinho de acelerador, pezinho na embraiagem e lá fomos andando. Quarenta minutos depois passámos a zona do acidente, não cheguei a saber se teria sido o mesmo asno de Pina Manique.
Andados mais 500 metros outro acidente. Bem debaixo da Crel. Um acidente fresquinho com quatro ou cinco carros.
******** FIM DE INTERLÚDIO ***********
Precisava de um blusão. Fui à loja do Pedro e como acontece quase sempre saí satisfeito.
Trouxe um produto (dois aliás!) indiferenciado e outro de “marca” por preços interessantes – vivo perto de éne lojas de roupa de Lisboa, não custa espreitar as montras e os abusos incríveis ao nível dos preços.
A loja do Pedro distingue-se por vários motivos. Sabe claramente o que está a vender e onde está o segredo do seu negócio. O serviço da modista para ajustes nas peças, por exemplo, está incluído no preço (coisa cada vez mais rara) e a satisfação do cliente é de longe uma preocupação prioritária e permanente.
Na loja do Pedro há uma solução diferente para cada cliente. Há seguramente margens de lucro muito diversas de produto para produto, de clientes tipo para cliente tipo. Adolescente (elas), adolescentes (eles), jovens adultos, meia idade e idosos (um nicho que deverá crescer nos próximos anos em Mem Martins).
Num espaço equilibrado com decorações diferenciadas o Pedro tem uma aplicação impecável de um modelo de negócio bem pensado.
O Pedro tem uma loja na zona nobre de Mem Martins (sim há uma zona nobre em Mem Martins!). Tem trinta e muitos anos e um estabelecimento de comércio tradicional que tem vindo a crescer saudavelmente ao longo da última década. É casado, tem três filhos e dirige uma empresa familiar (pais, esposa, irmãos…) sendo auxiliado por mais alguns empregados vocacionados para os diversos públicos. Aposta na qualidade, sabe negociar com boas marcas e apresenta resultados vendendo bem as suas colecções. É simpático, procura ultrapassar o sorriso de circunstância e tenta a todo o momento transmitir firmemente esse modo de estar ao resto da equipa com quem trabalha. Dispõe-se a fazer do cliente um amigo. E, como disse, tem tido sucesso.
Vai aos certames do sector, ouve os clientes, sai do interior da sua loja e sabe exactamente qual o seu papel no circuito económico em que está integrado. Esta visão abrangente do negócio, além do seu umbigo e da corriqueira guerrinha com a loja do lado, permite-lhe conseguir ser respeitado por fornecedores e clientes. É esse o segredo do Pedro. Inteligência e disponibilidade para trabalhar.
Consigo ficar feliz com compatriotas assim, bem mais feliz do que quando vejo alguém a acertar num qualquer preço certo.