Floresta da Serra da Estrela, NaturlinkO título é da minha autoria, o texto é do João Miguel Vaz um dos participantes na discussão sobre reciclagem que se tem patrocinado aqui no Adufe. A pretexto da notíca do Público de hoje que se apresenta em anexo, João Vaz lança uma crítica bem vincada à política de investimentos da Sociedade Ponto Verde (SPV) no campo da reciclagem / inceneração.

Caros,
Há quase mês comecei um e-mail que não terminei sobre os comentários do Henrique Agostinho. Envio-o agora, com uma actualização provocada por uma notícia do Público.
O Henrique Agostinho parte de um ponto um pouco “estafado”, os portugueses são uns “ignorantes” e é difícil levá-los a fazer alguma coisa pelo ambiente, no caso pela reciclagem.
Não vale a pena ser pessimista, é preciso acreditar que podemos mobilizar as pessoas se formos criativos. Como já foi várias vezes referido, o maior inimigo da reciclagem é o seu carácter pouco lucrativo.
Tal como a amiga do Rui referiu, o que ganha ela com a separação dos resíduos ? É a pergunta que muitos fazem e para a qual o Henrique Agostinho só tem uma resposta: a consciência de que está a fazer algo pela comunidade e pelo ambiente- a minha resposta é a mesma. A minha crítica à SPV é simples: os portugueses não estão convencidos que ao reciclarem estão a contribuir para o bem de todos. A falha está na mensagem e no mensageiro: junto aos Ecopontos que eu conheço não há mensagem e o mensageiro não passou por lá. Por isso, acredito no porta-a-porta. Este sistema funciona em determinadas circunstâncias em determinados lugares.
Mais uma vez, venho chamar a atenção para os estudos já existentes que podem dar pistas à implementação bem sucedida do porta-a-porta.
No concelho de Oeiras fizeram-se várias tentativas. Confesso desconhecer os resultados em pormenor.. Li hoje esta (ver abaixo) notícia no Público e estremeci. Se realmente a SPV recolha selectivamente embalagens para depois apoiar a sua queima, então não vale a pena as pessoas andarem a separa os resíduos, para quê ? Para irem parar todas à mesma fornalha ? Para ser construídas mais incineradoras ? Para enchermos a atmosfera ainda com mais CO2, furanos e outros venenos ?
Para isso não vale a pena gastar dinheiro em contentores verdes, azuis e amarelos. Será, ou já é, o descrédito total do sistema introduzido pela SPV.

Cumprimentos,
João Vaz

Em anexo a notícia de hoje do Público.

Ponto Verde Poderá Apoiar Incineração
Por R.G.
Quinta-feira, 23 de Outubro de 2003
Parte do dinheiro que está a ser aplicado na reciclagem de embalagens em Portugal pode, nos próximos anos, vir a ser investido também na incineração. Esta hipótese consta de um documento interno da Sociedade Ponto Verde (SPV) – responsável pela gestão dos resíduos de embalagem em Portugal – que a associação ambientalista Quercus tornou ontem público. Segundo a Quercus, o documento – uma versão do plano estratégico da SPV para 2003-2012 – prevê que sejam transferidos 700 mil euros anuais para a valorização de embalagens através da sua queima em incineradores.
Até agora, a SPV tem investido apenas na reciclagem, pagando às autarquias o custo adicional da recolha selectiva de resíduos. Em 2001, as autarquias receberam cerca de 18 milhões de euros da SPV. Para a Quercus, não há razão nenhuma em se transferir dinheiro para as incineradoras, que actualmente já queimam embalagens usadas, sem qualquer custo adicional.
Num comunicado, a associação também lembra que o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias, através de um acórdão recente, declarou que a incineração não pode ser considerada como uma operação de valorização de resíduos. Com isto, a incineração poderá não servir para que Portugal cumpra as metas da directiva comunitária que diz que metade das embalagens usadas têm de ser valorizadas.
A denúncia da Quercus apanhou de surpresa a SPV, uma vez que se baseia num documento interno, que ainda está em discussão, não foi aprovado pela empresa e apenas traça cenários. “Eticamente, considero inqualificável o que aconteceu”, disse ao PÚBLICO Lamy Fontoura, administrador da empresa. Fontoura afirma que, no âmbito do novo licenciamento da SPV – que está a ser negociado com o Governo -, a empresa pode vir a ter de assumir novas obrigações quanto à valorização das embalagens. As verbas a transferir para a incineração seriam equivalentes ao custo adicional para saber quantas embalagens estão a ser queimadas – algo que já é feito pelas empresas Valorsul e Lipor, que gerem os únicos incineradores de lixo urbano do território continental. Lamy Fontoura sustenta, ainda, que a legislação actual considera a incineração entre as opções de valorização de resíduos. “Dá-me a entender que eles [a Quercus] não conhecem a lei”, afirma. “Não é de estranhar que façam confusões sobre o documento.”

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