Há por aà quem se queixe que há falta de ironia em alguns dos ilustres da blogo-esfera. Quem não tem lacunas nesse saber é o senhor que se segue, que trago pela segunda vez aqui ao Blog.
O jornalista João Paulo Guerra não terá um blog? Não há quem o convença? No entretanto apreciem a crónica de hoje no Diário Económico que não resito a publicar aqui na integra.
P.S.: à pena este jornal ter tão pouca audiência. Editoriais inteligentes, análises geralmente cuidadas e crónicas brilhantes. Fica o repto a uma espreitadela!
O Negócio
João Paulo Guerra
O Diário Económico revelou que o Governo português vai comprar a uma empresa italiana 20 viaturas blindadas para equipar a companhia de 120 militares da GNR que se prepara para partir para o Iraque.
Acontece que a entrega dos blindados só se fará dentro de alguns meses e, entretanto, a reconstrução e pacificação do Iraque não espera nem dispensa a participação da nossa GNR. Portanto, a companhia da Guarda partirá para Bagdad e, uma vez no Iraque, irá utilizar equipamento emprestado pela polÃcia italiana estacionada naquele paÃs. Portanto, se bem se entende, a GNR não precisa propriamente dos blindados para a sua prestação no Iraque, onde actuará ao vivo a bordo de carros de combate emprestados pela polÃcia italiana. Do que Portugal fica a precisar é de pagar à Itália o favor do empréstimo dos blindados. Custará, segundo o meu jornal, qualquer coisa como 2,5 milhões de euros. E depois?
Depois do regresso a Portugal da companhia da GNR que vai actuar no Iraque, restarão ao Governo duas alternativas para justificar e rentabilizar o investimento de 2,5 milhões de euros. Ou funda uma empresa de aluguer de blindados, um ‘rent-a-tank’, ou monta um negócio de armazém de ferro-velho novinho em folha.
Uma coisa parece evidente. Os blindados que a GNR vai comprar para utilizar no Iraque não terão serventia em território português. A menos que se trate de uma larga e pouco vulgar visão de futuro por parte dos nossos governantes, tendo em conta as previstas modificações climatéricas. Daqui por uns anos, com o avanço da desertificação de Sul para Norte, Portugal terá uma configuração fÃsica pouco mais ou menos como a do Iraque. Diz-se que sim. Diz-se que Lisboa será como Casa-blanca e que uma boa parte de Portugal será como os desertos do norte de Ã?frica e do próximo Oriente. Talvez seja esse o motivo pelo qual vão aparecendo por cá tantos camelos.