Mas porque raio me incomoda tanto esta ficção alheia?
" (…) Se estivesse em causa umas notas entregues num saco de plástico por um pato bravo da construção civil não faltariam filas de comentadores às portas dos estúdios das televisões, primeiras páginas com entrevistas às amantes do pato bravo e intervenções dos nossos distintos comentadores. Mas o presidente da Somague não é nenhum pato bravo, a teia de relações em que se movimenta representa uma elevada percentagem do PIB, como diria um qualquer assessor de Sócrates.
Atingir a Somague seria atingir um deles, seria atingir uma rede de interesses que controlam uma boa parte do nosso país, da comunicação social ao sistema político. As “somagues” não pagam apenas a políticos, delas vivem muitos dos nossos académicos, jornalistas, jurisconsultos, consultores, “senadores” e comentadores. Com o seu dinheiro já foram eleitos autarcas, presidentes e primeiro-ministros.
A verdade é que este silêncio não é casual, as nossas elites vivem das mesmas gorjetas que alimentam os partidos, ninguém está interessado em que se fale do assunto, estamos perante uma omertà à portuguesa."
in O Jumento.
P.S.: se ao menos houvesse cristandade, os telhados de vidro convertiam-se em penas redimidas e o justo (poderia) ressurgir de dentro do manietado. Viver é preciso, sobreviver não é preciso.