Quem sou eu para ensinar a missa ao padre. Não liguem ao que aqui vou escrever porque é sobre política e eu sou um mero eleitor… Mas que coisa é esta de andar a reformar a saúde, aumentar a equidade e tal, às pinguinhas?
Quase todos os meses há uma novidadezinha, uma taxa moderadora aqui, um encerramento ali, agora mais o fim de uma isenção (e é só uma potencialidade que incidirá sobre as crianças ricas logo, havemos de andar mais um ror de tempo em bolandas com isto) e mais o fim dos benefícios fiscais relativos a seguros de saúde e de vida. Amanhã quem sabe o que virá aí.
Notem que não estou sequer a dar opinião sobre as medidas concretas (avanço apenas que já aqui sugeri a limitação generalizada de todos os benefícios fiscais em matéria de IRS por substituição via implementação de medidas directas de apoio).
O que me parece confrangedor é, por um lado, esta imagem de navegação à vista avançando com medidas que podiam (deviam) ter sido lançadas, discutidas e implementadas por junto há muito tempo (que sentido faz mexer sucessivamente no âmbito das taxas moderadoras?) e, por outro lado, ficar no subconsciente a perspectiva de uma lenta mas inexorável implementação do pagamento integral dos cuidados de saúde.
Se não são estes os objectivos do actual governo (dar uma imagem de reformismo às apalpadelas e de sacanice política – porque não sufragada – ao incutir uma tendência de restrição ao acesso ao Serviço Nacional de Saúde) parece-me que se está a conseguir alcança-los com distinção.
Há reformas que têm de ser feitas por impulso, com momentos bem definidos de ruptura e com o posterior ajustamento e garantia de estabilização futura. Cultivar um atrito e desgaste progressivo, patrocinado por medidas avulsas em base regular é meio caminho andando para perder o favor do mais empedernido defensor de um qualquer programa político. É quase sempre preferível mentalizar-se um país para um choque do que mentalizá-lo para uma tortura chinesa. Assim não senhor ministro.