Hoje, o impulso parece-me bom (entre outros) para comprar marroquinaria, mas péssimo para tomar partidos ou classificar relações, até porque certos estados de alma exigem um grau de envolvimento e de expectativa preliminar que nem sempre estão cumpridos. A traição exige também que se conclua inquestionavelmente pela intencionalidade e premeditação. Perante o tipo de comportamento da parte hoje mais visada (Canãa) que se defende literalmente atrás de civis e perante o mito da infalibilidade  das armas cirúrgicas e da intelligence, tudo fica menos cru. Juntando a isso a inequívoca impossibilidade de confundir a simpatia que tenho pelos que morrem (e sofrem com a guerra) com outras simpatias.

Uma coisa parece certa, depois de hoje, tudo será um pouco mais difícil para quem está farto de ter de enfrentar dilemas morais e assistir a carnificinas todos os dias – que é de forma cínica e sincera quase o máximo que julgo possível a quem aqui vê as notícias. Custa ainda a entender a utilidade politico-militar de continuar com este tipo de intervenção de forma continuada por parte de Israel. Ou têm melhor informação no terreno antes de disparar o gatilho, ou então mais vale mudar já de estratégia militar. Por muito pouco prioritários que sejam os humores de comunidade internacional (seus vizinhos incluídos) na lista de objectivos israelitas, a repetição do que se passou em Canãa e suas ondas de choque trará sempre um custo crescente para Israel.

Termino com um desafio desgastante: mais do que recriminarmo-nos mutuamente com a gradação moral e humana de cada um, ou com a superioridade do nosso clube, tinha piada termos como objectivo último do nosso empenho dar um contributo para pôr um fim pacífico nesta história. Tudo fica complicado quando não há lobos puro sangue nem cordeiros virginais, mas fica ainda pior quando queremos que haja tais lobos e tais cordeiros. E isso não foi alterado com o que aconteceu em Canãa.

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