Demorou alguns anos mas aquilo que me contavam em conversas entre amigos que conheciam a casa por dentro chegou hoje às páginas do suplemento de Economia do Público (pag. 2 e 3) sob o patrocínio de uma auditoria pedida pelo actual ministro da Segurança Social. Bem sei que muito facilmente se poderá transformar a auditoria numa cabala, numa arma de arremesso político “inventada” pelo actual ministro, enfim, facilmente nos atirarão com os argumentos do costume gerando-se uma cacofonia tamanha que nos levará muito provavelmente a achar mais interessante olhar para a rosa ali de baixo, mas… Desta vez calha o assunto ser-me minimamente familiar, calha recordar testemunhos de pessoas que considero insuspeitas que há muito se chocavam com os elevados vencimentos do quadro de pessoal do IIES, com os longos períodos onde nada havia para fazer acompanhados, ainda assim, de sucessivas contratações de quadros qualificados, com as inusitadas e dispendiosas “deslocalizaçõesâ€? dos serviços para novos edifícios em outros concelhos, com os sucessivos contratos milionários com prestadores de serviços externos e com os também sucessivos fiascos da reforma e da informatização da segurança social (que eu bem sofri na pele) e ainda com a aparente desresponsabilização dos dirigentes da casa perante tamanhos insucessos.

Nem tudo terá falhado por culpa exclusiva dos dirigentes políticos ou dos gestores directos, há também memória para recordar o bloqueio à modernização do sistema feito por responsáveis em alguns lugares chave do ministério afectos a outras cores políticas. Mas poucos ou nenhuns foram devidamente denunciados e confrontados publicamente com a sua atitude.

Recomendo que se leia o Público e aguardo por uma resposta dos visados talvez na vã esperança de ser honestamente esclarecido. Neste caso confesso que pouco mais do que o reconhecimento dos erros me convencerá, tamanho o peso dos argumentos recolhidos e a dificuldade em perceber, por exemplo, que houvesse desconhecimento do que se passava, mas, como já disse, a resposta poderá ser algo bem pior do que isso.

Para este que vos escreve a confirmação da gestão calamitosa da Segurança Social é o mais forte argumento para desconfiar seriamente da capacidade política e executiva do actual líder do Partido Socialista e de alguns do ex-governantes que partilharam com ele a responsabilidade política desse mesmo período. Aceitar o rendimento mínimo garantido como troca para aquilo que parece ser um dos melhores exemplos de como não gerir o dinheiro público é o pior serviço que se poderá prestar a quem defende uma função social do Estado e é dar a quem quer destruir essa mesma função o melhor dos argumentos. Como resume João Ramos de Almeida, jornalista do Público: Bom e caro mas inútil. É isso que temo que possa voltar a acontecer numa futura governação do PS. O rigor orçamental, a exigência sobre os fornecedores e o cumprimento das responsabilidade por parte do Estado, a recuperação da sua imagem enquanto “pessoa de bem” não deverão ser variáveis à medida que muda o partido do governo mas antes valores irrenunciáveis como garante da boa gestão pública. Ainda está para vir o primeiro governo que faça escola nesta área por mais de seis meses.

Como interpretar o que se passou com a gestão dos serviços de informática da Segurança Social? Lendo a notícia e tentando compreender os porquês do que se passou encontro fortes indícios ou de uma imensa ingenuidade, ou de grave incompetência ou mesmo da prática de ilícitos (como compreender os sucessivos custos acima dos preços de mercado de que se fala?) na gestão e tentativa de reforma dos serviços informáticos da Segurança Social durante a vigência de Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso e Vieira da Silva. Desconfio ainda que puxando o fio a esta meada mais histórias se venham a saber, igualmente graves e pouco abonatórias para os responsáveis políticos do PS de então. Haja quem o puxe e me desengane por favor!

Bem sei que Mira Amaral, Silva Peneda e outros antigos governantes do PSD não fizeram melhor como muito bem nota o Público recordando o pior que podemos ter da lógica de Bloco Central mas, ao contrário das regras “elementares” do combate político, é com os que me estão mais próximos que gosto de ser mais exigente pois são também eles que mais me moldam as expectativas.
Apesar da pouca margem para a absolvição que deixo no julgamento pessoal que aqui testemunho, haja ainda direito de resposta. Pelo respeito que os visados ainda merecem e, já agora, pelo respeito a quem assiste a tudo isto e quer continuar a viver em Democracia e num Estado de Direito mais de facto do que de jure.

Rui Manuel Cerdeira Branco

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