O horror! A tragédia. O PS absteve-se e aprovou, respetivamente, os projectos de resolução de PSD e CDS sobre os compromissos europeus e a política externa e de defesa! O BE e o PCP votaram contra! E agora?!
Agora só podemos agradecer ao PSD e ao CDS terem dado ao PS mais uma oportunidade para continuar a ser igual a si próprio dando provas de que é um partido moderado e responsável (na minha opinião, claro). E aos restantes partidos para exercerem a sua opção de forma livre e coerente com o que sempre têm defendido em matéria onde não houve qualquer concertação à esquerda.
E se… mesmo com as diferenças tão claras houver um governo do PS com apoio mais que suficiente para governar o país melhor do que nos últimos anos? Esse é que é o desafio. O resto é um bom serviço prestado à nação pela direita: não, o PS, o BE e o PCP não são iguais.
Venham mais.
Tag: Legislativas de 2015
A Escola de Paulo Portas
Agora dá jeito exacerbar as divergências à esquerda e esquecer o que a PAF disse do PS e vice versa durante a campanha (ou durante a última legislatura).
Também dá jeito esquecer que ninguém votou num governo de maioria absoluta de direita em 2011 ou em 2002 mas “apenas” num vencedor minoritário. Sem qualquer “ética ou moral” o PSD e o CDS juntaram-se depois das eleições e formaram um governo estável sem que a maioria tivesse sido sufragada como tal. Mas quanto a esse exemplo (e bem) ninguém veio com a conversa da ética e da moral. Porquê?
Agora, à falta de melhor, com a direita efetivamente coligada antes das eleições e perante a perda clara da maioria absoluta (é curioso que quando foram a votos efetivamente coligados parece que o eleitorado não lhes renovou a maioria que eles tinham auto-proposto e usado para governar) o problema está no carater de António Costa que quer tentar formar uma maioria absoluta estável. Mas não pode, porque “não ganhou” contra toda a direita coligada e porque tal potencial coligação “nunca foi sufragada”.
O nível de argumentação, de desonestidade intelectual e a histeria a que assisto deixa-me consternado com o que é a interpretação do nosso regime democrático. Vale tudo. A escola de Paulo Portas tomou de assalto uma vasta falange e isso é uma catástrofe para o nosso futuro, bem para lá do que possa acontecer com o próximo governo.
O economista Ricardo Reis surge hoje citado pelo Negócios da seguinte forma: “Não estamos assim tão longe de um próximo resgate”.
Pois eu acho que tem razão e esta conclusão deve servir vários propósitos.
Desde logo perceber porque é que ao fim de vai para seis anos de austeridade (em que em três deles andou particularmente desbragada) e quase quatro anos de “reformas estruturais” sucessivamente sindicadas pela troika, nada de substancial mudou quanto ao risco de novo resgate. A reflexão inteligente sobre estes porquês ajudará a compreender quão complexo é o problema e quão absurda foi a simplificação feita por alguns políticos (entre eles os que agora estão no poder em Portugal) sobre as causas da crise. A dada altura chegou a bastar imaginar que tudo se resolveria extraindo o primeiro-ministro de então da cadeira do poder. Foi no mesmo tempo, aliás, que se avançou com a garantia que um forte emagrecimento das gorduras do Estado (que não pressupunham mexer em salários e pensões) bastaria para equilibrar as contas públicas. Afinal, a história estava mal contada e hoje, mesmo tendo-se cumprido boa parte da receita “salvadora” redesenhada afincadamente pelo atual governo e pela troika temos de concordar com frases como as de Ricardo Reis se queremos ser intelectualmente honestos: estamos ainda sob grande fragilidade, ou melhor, estamos em vários aspetos mais frágeis, mais pobres e mais desprotegidos.
Este reconhecimento deveria também permitir avançar de forma mais inteligente para os fundamentos da nossa fragilidade: para os que a alteração depende direta e imediatamente de nós e para os que dependem coletivamente daqueles com quem partilhamos o projeto europeu e a moeda única.
A verdade é que por muito bons alunos que sejamos (de boas ou más receitas salvadoras) não há solução duradoura dentro do Euro sem alterações profundas na União Monetária. Nem para nós, portugueses, nem para ninguém. E aqui Ricardo Reis aponta algumas ideias que permitirão comprar tempo por um lado (emitir dívida a prazos mais longos) e, por outro, aproximar-mo-nos de algo mais sustentado para anularmos os choques da própria união como um maior orçamento europeu de investimento e mecanismos de solidariedades comuns (como o subsídio de desemprego). Só que nesta segunda parte todos estamos muito ceticos e se o ceticismo se consolidar (como tem vindo a acontecer) em imobilismo e em reforço do “não há alternativa” que não a austeridade e o empobrecimento, pouco poderemos fazer para evitar o próximo resgate ou mesmo a saída do Euro. E mesmo saindo desta dicotomia habitual e entrando numa perspetica de reforma institucional que tem sido avançada mas que passará por não mexer no orçamento comum (que não existe como tal para a Zona Euro) e reduzir a reforma a um diretório centralizado que decidirá os orçamentos nacionais sem qualquer correlação com a vontade popular ou sem o condigno mecanismo de solidariedade comum via orçamento, não será em rigor alternativa nenhuma.
Uma solução definitiva dentro da Zona Euro estará portanto bem para lá da nossa capacidade de sacrifício, para pegar num termo muito caro aos tempos atuais… Não haverá magnitude humana e democraticamente sustentável que nos livrará desse destino. E dito isto convém que quem quer ser primeiro-ministro seja muito claro quanto a este risco de que fala Ricardo Reis. Convém que não se invista em poderes que não tem e responsabilidades que não pode assumir mas convem que trace muito bem, ao mesmo tempo, o caminho da esperança que temos pela frente. Seja dentro da zona euro, seja fora dela, com inevitável acerto de passo na dívida, há um caminho, um caminho que poderá ter tanto de escolhido quanto de imposto. O futuro o dirá.
Para já, o que temos como certo é que haverá pano para mangas neste caminho para as legislativas de 2015 e muito a que estar atento e porque batalhar na defesa dos interesses dos portugueses no espaço europeu.