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Era uma vez no governo

A propósito do última sondagem da aximagem
PS atinge os 39% o valor mais elevado em um ano.
BE tem mais um indicador de que perante as suas opções dos últimos nove meses, os 10% das legislativas estão cada vez mais longe de poderem ser interpretados como voto de protesto, errático e volátil.
O PCP tem também mais um indício de que estará a ser fiel aos intentos do seu eleitorado e tal como o PS vai subindo entre junho e julho rondando os 7%.
Os três partidos de esquerda estão longe de se “canibalizarem”: somados atingem o valor mais elevado – cerca de 56% – mais 5 pontos do que face aos resultados das legislativas.
PSD caiu para os 30 a 31, a fasquia mais baixa desde que se separou do CDS e o CDS sobe ligeiramente face a junho de 2016 para cerca de 5%.
Na prática, os três partidos que suportam o governo continuam a procurar a cada dia formas de compatibilizar prioridades e valorizar objetivos comuns, com o governo a procurar gerir da melhor forma possível as respetivas agendas no respeito dos compromissos europeus e do seu programa. Numa palavra: normalidade.
 
As diferenças persistem e perduraram como é saudável em democracia. Haverá mais eleições, haverá tempo para as destacar e para pedir a renovação do apoio popular. E também isso é normal. Creio que aos poucos os portugueses mais renitentes vão percebendo que estamos a encontrar um caminho que não deve embaraçar nenhum democrata.
A responsabilidade dos democratas é perante as diferenças, no respeito da correlação de forças determinada pelo voto, encontrar e testar os caminhos comuns possíveis no melhor interesse do bem comum, por mais estreito que seja o caminho do entendimento político. Desta vez persistimos num desse entendimentos, à esquerda como tantas vezes no PS o fizemos com outras forças partidárias em 41 anos de democracia. Já era tempo e ainda bem que foi finalmente possível.
 
A tarefa não é hoje mais fácil do que em novembro, em especial se olharmos para a situação económica e política na Europa e no mundo mas não consigo deixar de recordar que já no passado, neste meses de legislatura, se ultrapassaram dificuldades e se encontraram caminhos compatíveis com todas as linhas vermelhas fundamentais dos quatro partidos que apoiam o governo e com os preceitos da nossa participação comunitária. Mesmo perante as adversidades – ou especialmente perante elas – é fundamental respeitar com sentido de futuro o interesse do eleitorado com que estamos alinhados.
A verdade é que, tal como pensava antes de imaginar sequer que teria um pequeno papel na engrenagem do governo, mantenho e reforço que neste momento histórico esta continua a ser a melhor opção de entendimento político para servir o país e a própria Europa.
Dito isto, é possível continuar a melhorar, é possível aprender com os erros cometidos nestes meses, é possível gerir e resolver os problemas herdados do passado que insistem em aparecer com escala e surpresa (aqui dá jeito contar com um mínimo de bom senso europeu), é possível potenciar mais as relações que se construíram e é possível cumprir esta legislatura com um saldo francamente positivo.
Não depende só de nós? Não, não depende, mas dá muito jeito termos percebido que era preciso ajudar-nos a nós próprios, recuperando o sentido de dignidade, a capacidade crítica face ao mundo que nos rodeia e um sentido pragmático alinhado com o interesse fundamental de quem, em Portugal, elegeu os seus representantes políticos.
A sondagem foi analisada aqui no Negócios.
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Um governo de esquerda: ponto da situação

Dia 7 de outubro:

Esta democracia tem de ser mais madura. Eleitos e eleitores. Fazer “call” ao “bluff” ou à sinceridade de procura de concertação à esquerda é fundamental. Sendo que cada caso (BE e CDU) é um caso. E a hora é agora. Não é daqui a uns meses perante um governo apodrecido, por exemplo.
Espero que António Costa consiga o mandato que estará a pedir na Comissão Política Nacional do PS [que conseguiu] e que está a ser anunciado nos media.
Na pior das hipótese haverá pedagogia política; na melhor um grande salto evolutivo na nossa democracia que, note-se, pode até acontecer mesmo sem um acordo a três [e consequentemente sem governo de esquerda].
Tempos muito interessantes. Muito do futuro político do país no curto mas também no médio e longo prazo pode decidir-se por estes dias. Ao centro, à esquerda e à direita que isto está mesmo tudo ligado.

Dia 10 de outubro:

Baixa no secretariado do PS. Não há bluff. A minha dúvida agora é quanto ao grau de pureza do BE. Conseguem enfiar algum radicalismo na gaveta? Quando uma parte faz três exigências, se forem atendidas pela outra, está disposta a enfiar o resto do programa extremista na gaveta para evitar um governo de direita?
O PS é de longe quem está a investir mais capital político neste processo. O BE já estabeleceu três exigências. Creio que não são inultrapassáveis mas quer isso dizer que prescindem do extremismo no resto?
Na realidade ainda não fazemos ideia no que estão dispostos a ceder para viabilizarem um governo com um partido da esquerda moderada como o PS.
Espero que segunda-feira fique claro.
Note-se que considero que seria um suicídio político para o PS (e não só, mas com o mal dos outros…) se o governo de esquerda fosse algo diferente de uma coligação a três no governo. Todos empenhados. Todos com a carne toda no assador, a bem do país.

Se o pior acontecer (falta total de entendimento ou de pontes para um entendimento futuro) nem tudo se terá perdido. Todos os anos nascem inocentes. A malta que vive na política tem tendência a esquecer-se disso. A história ensina-se ou esquece-se.

Neste momento, ouvido Louçã ontem na SIC e recordando todos os episódios da semana, apostaria num cenário em que a coisa à esquerda se resumirá a um jogo do empurra ao PS para que forme um governo minoritário com juras de apoios pontual por parte do resto da esquerda e chantagem de que isso deveria ser suficiente para o PS não apoiar um governo de direita. Não chega. Como disse, ou constroem um programa comum ate´oa nível das questões orçamentais e mecanismos de estabilização automática ou o governo estará condenado ao fracasso. Não é preciso conhecer muito de ciência política para saber isso. BE e CDU têm a palavra. A decisão histórica é exatamente essa.

Recapitulando: Há possibilidades de entendimento à esquerda para um governo estável ou não?

Um à parte final: parece que há muita gente à direita e à esquerda que protestou com o voto e está a descobrir agora que o voto de protesto elege deputados. Parece até que querem fazer de conta agora que foi a brincar, que a construção de maiorias na democracia portuguesa só se pode fazer entre três partidos. Giro.